Reconstrução
A reconstrução de nós mesmos, do que somos e conhecemos, é mais importante que nossa construção, pois demonstra que não estamos parados no tempo, que somos donos de nossa razão.
Não somos o que fomos e não seremos o que somos, a passagem do tempo transforma tudo o que acreditamos, nossas verdades, nossos conceitos, nossas convicções, se não o fosse, não haveria sentido existir, o tempo passa e se não passarmos com ele, ele nos atravessará e não teremos lugar para estar.
Como seres humanos estamos dispostos a inúmeras situações que nos impactarão, elas não são a questão, nossas reações a elas é que nos definirão.
Há momentos em que precisamos nos tornar fortaleza para nos proteger e/ou proteger quem importa para nós, nesse momento criamos a persona necessária para sobreviver ao tormento pelo qual ficamos expostos, novamente essa não é a questão, a questão é quando, passado esse período, continuamos construindo barreiras, não compreendemos que o perigo não existe mais, as barreiras construídas que nos protegiam, hoje só servem para nos isolar e nos afastar de quem importa e se importa, o momento de nos proteger de tudo e todos precisa dar lugar à construção de pontes para que não terminemos sós, afundados em nosso medo e aflição.
Há momentos em que, diante de novos conhecimentos e percepções, nossas convicções são postas à prova, nos mantermos presos ao que um dia fez sentido ou reconhecer nossa ignorância e nos abrirmos ao que o novo nos mostra é que é a verdadeira prova.
Esse contexto lembra o paradoxo do navio de Teseu, um paradoxo filosófico antigo que nos leva a questionar o que realmente define nossa identidade. Permita-se imaginar-se ser um barco e, eventualmente, cada parte dele começa a deteriorar-se. Então, vai-se substituindo as peças: uma vela aqui, uma prancha ali, até que no final, nenhuma das peças originais sobra. A questão é: Ainda é o mesmo barco? Ou se você juntasse todas as peças originais e as reconstruísse, qual dos dois seria a verdadeira nave de Teseu? O novo ou o reconstruído?
Uma verdade é clara, não dá para se manter preso ao que outrora foi, o navio é consumido a todo instante por intempéries, corrosões, ferrugens e se não se movimentar e se adaptar, vai sucumbir e no fim não restará nada do que foi sua razão de existir.
Mas, se precisamos mudar constantemente, pois o mundo não para, como é possível nos manter nós? Com tantas mudanças não acabaremos nos tornando um rascunho de quem somos? Se ao longo dos anos nossas células mudam, nossas ideias evoluem, e nossas experiências nos transformam... o que realmente nos faz ser nós mesmos? No final, o que nos define? Nosso corpo, nossas memórias, nossas escolhas ou algo mais profundo? O que nos faz continuar sendo nós?
A reconstrução é necessária para nos manter vivos e não digo vivos no sentido físico da palavra, mas vivos em nossos corações, com vontade de acordar todos os dias e sentir a vida nos preencher, sem vontade de morrer.
Como disse Heráclito: "Nenhum homem toma banho duas vezes no mesmo rio, porque nem o homem, nem o rio são os mesmos."
Respondendo aos questionamentos colocados, uma frase antiga, um aforismo egípcio me vem à mente: “Conhece-te a ti mesmo.”, com isso, mesmo que não sejamos mais os mesmos, pelas experiências vividas e os novos conceitos adquiridos, mantemos quem verdadeiramente somos quando mudamos por nos conhecer profundamente e aquilo que antes nos fez ser quem fomos, não cabe mais no ser que somos; Nos mantemos quem somos ao mudarmos para preservar o que de mais belo e profundo existe, nossa capacidade de amar e nos permitir sermos amados.