Busca
Todos estão fugindo de algo, mas poucos estão, verdadeiramente, buscando algo.
Foge-se quando onde o lugar em que está não lhe proporciona os meios necessários para suprir suas necessidades físicas ou mentais, satisfações do ego ou ambições materiais.
Busca-se quando a alma fala uma língua diferente do ambiente, quando não são necessidades que lhe movem, mas algo que não consegue explicar o que sente, maior e além de você, a busca vem, não quando vai embora, mas quando vai para o lugar onde deveria estar.
A fuga ocorre quando o lugar onde se está não oferece os meios de ser o que se é e para sobreviver é preciso fugir, mesmo querendo muito ficar, mesmo deixando para trás tudo e todos que conhece e faz parte do que sabe ser você; A fuga ocorre quando buscamos melhores condições de vida, de subsistência, de ter mais que simplesmente a sobrevivência; A fuga ocorre quando a ambição não cabe no lugar onde de está e assim busca-se mudar, uma outra cidade, um outro pais, uma nova identidade, um novo modo de existência.
A busca ocorre quando, onde está possui meios de viver satisfatoriamente, quando o desejo de fugir simplesmente não existe, não é algo que se busca, mas viver, simples e puramente, não é o que importa ao ser; A busca ocorre quando a mente começa a ouvir o que o coração tem a dizer, com muitos questionamentos, mas sem julgamentos, apenas ouvindo e se deixando seguir pois não é ela que manda; A busca é algo maior que si mesmo, um chamado inexplicável que vem do além, não se tem noção de onde vem, apenas se sabe que onde está foi o inicio, mas não será o fim, que sua jornada é na verdade um caminho de volta para “casa”.
A vida é uma viagem, curta e sem volta, e como viajantes só há como seguir em frente, pois mesmo se houvesse a possibilidade de voltar, o que foi deixado não existe mais, já não se é o mesmo de quando saiu e nem será possível encontrar o que foi deixado para trás, tudo e todos mudaram, e a memória é o único lugar onde poderá encontrar o alento de uma vida que não pode mais ser vivida.
Diante de tudo, pode se dizer que o fugir não acaba quando se muda, seja para onde for, mesmo estando em outro ambiente, continua a fuga, o querer algo diferente sempre continuará, pois o ambiente não define o sentir, a vontade de fugir sempre vai estar ali, mais e mais, é o que se busca ao fugir, o sentido de querer algo melhor, mesmo sem saber o que significa, é o que impulsiona essa busca, a ambição não tem fim, sempre vai haver algo mais, a busca de si mesmo esconde a fuga de não ser aceito, não ser compreendido, ser um apátrida, um navio sem rumo, a fuga só termina quando verdadeiramente for possível saber o que se busca, o conhecimento de si e do ambiente em que está inserido, só assim será possível parar de fugir.
A busca é a volta para “casa”, é quando nada mais importa e o chamado lhe traz o conforto de saber que está no caminho certo para decifrar seu lugar na existência.
Por casa não falo de algo físico, estar em casa é estar em paz, seja ao lado de alguém que te faz bem, família, amigos, amor; Estar e casa é não ter mais o que buscar, pois já encontrou o que precisava para superar o que a vida quis mostrar; Estar em casa não é externo, é quando o ambiente em que está lhe proporciona a paz que sua mente e seu corpo sempre buscaram, quando um pôr ou nascer do sol, um prato de comida, um sentar se no sofá, um encontro ou reencontro te fazem suspirar e dizer com lágrimas nos olhos: “Estou em casa.”
A vida é tão passageira, tão curta, tão efêmera, não se pode viver fugindo e deixando de viver e ver viver quem se ama, pode se rodar o mundo fugindo de si mesmo, para descobrir, no fim, que o que se buscava estava, desde o ínicio, alí, ao lado e do lado, dentro de si e por medo, insegurança, não se conseguiu sentir.
Já se perguntou se está buscando ou está fugindo?
Já se perguntou onde esta busca ou esta fuga está te levando?
Saber a resposta é o que fará continuar ou parar de fugir e buscar.