Conexão

Em um mundo onde não é permitido se permitir sentir, onde mostrar-se é curvar-se à fraqueza, onde não se é possível chorar sem sentir-se desconexo do que lhe cerca, um mundo onde, para se sentir parte do todo têm-se que perder parte de si, onde todos estão tão preocupados em parecer inteiros, que mesmos sós não conseguem ver no espelho algo que não seja reflexo da imagem que cunhou para si mesmo.

Nesse mundo doente, frio e frívolo, seria possível haver uma conexão real?

Seria possível encontrar um outro ser que te faça sentir verdadeiramente sem medo de ser taxado como desigual?

Que te conecte com o que há de mais profundo em si?

Que te faça chorar sim, de alegria ou tristeza, de emoção ou desilusão, não importa o motivo, a razão, apenas que consiga te fazer sentir, sentir-se humano, divino e mortal?

Te faça enxergar a vida em cores uma vez mais, sem o véu cinza e âmbar da moral?

Te faça sentir o toque da pele, seu calor, seu tremor, que mesmo com medo não refugue ante o desejo, ante o amor?

Que faça pulsar o peito de tal forma que no silêncio de um beijo seja possível ouvir o que diz o coração?

Num mundo onde o medo de não ser aceito transforma o sujeito em um mecanismo privado de emoção, seria possível encontrar alguém que te faça capaz de romper as barreiras criadas para sua proteção?

E se possível fosse, mesmo sabendo do risco que correria, risco de morte eu diria, morte de sonhos, de sentimentos, de tudo em que acredita, se encontrasse tal ser, teria a coragem de correr até ele e dizer: me leve com você?

Num mundo onde a regra é não se permitir sentir para não sofrer, qual o maior risco a se correr? Viver a vida que lhe foi dada sem ter sentido o real sentido de viver ou sentir tudo que possa ao coração fazer sentido, pois viver sem ter sentido é morrer sem ter vivido?

Por pior que seja sentir dor, é ainda pior não sentir nada.