Vilão

Uma questão sempre me veio à mente ao me deparar com certas situações de revolta, tristeza, decepção: Por quê? Por qual razão essa pessoa age assim? Ela não percebe o mal que faz? Não compreende toda a mágoa que alimenta? Por que ela simplesmente não tenta? Tenta ser diferente, pensar no outro, em como ele se sente?

E ao me questionar, percebo que as feridas causadas por essas pessoas falam mais sobre elas que sobre suas ações.

Quando vemos um vilão, um anti herói dos desenhos, filmes, histórias, os odiamos, até porque representam o que há de errado no mundo e torcemos para que o mocinho vença e salve todos que estão à mercê daquele poder.

Não enxergamos o que há por trás, o que houve para que se chegasse até ali, o vilão não surge do vazio ou da escuridão, nascido das profundezas do inferno destinado a causar o mal, muito menos acorda um dia e, por conta própria, decide romper com todos os elos e ligações que possui pelo simples prazer de o fazer.

Por vezes, grande parte das vezes, eles estão tão machucadas, tão feridos, tão magoados, que ferir, machucar, magoar é uma forma de se expressar, um pedido mudo de socorro à ouvidos surdos de compreensão.

Seus atos são moldados pelas circunstâncias, resultados de anos e anos de feridas do mundo ao seu redor. São espelhos dos tormentos e das dores humanas mais profundas: rejeição, solidão e incompreensão.

É fácil ser bom, amável, amigável, difícil é vencer todos os dias sua dor, seu temor, para não ferir ou sangrar em quem não te feriu, em quem não foi o causador, difícil é compreender a si mesmo e perceber que aquela dor não define seu ser e que replicá-la não vai aliviar o sofrer.

O herói, o mocinho, é definido por seus atos de bravura ou por sua doçura, mas o vilão, o anti herói é o resultado de um coração que já foi puro, ingênuo e imaturo, e se corrompeu, sangrou, sofreu a tal ponto que entendeu ser esse o único meio de sobreviver num mundo que não o acolheu.

Em sua tragédia replicada e revivida dia após dia, reverberando e mortalmente atingindo quem os ama, nos mostra o que poderia acontecer conosco se deixarmos que a dor do mundo invada nosso coração, nossa mente, nossa razão e nos roube o poder de compreender nossos atos e lutar para nos curar e ver que nada do que nos ocorreu tem o poder de nos impedir de nos permitir amar.