Abismo
Sinto o mal em mim, em minhas veias, respiração e pulsação quando me deixo levar pela emoção, nas minhas predileções, concepções, instintos e acepções, que se furtam a tudo que é comum, ordinário e simplista, o sinto em minha mente que mina a todo instante minhas expectativas e sonhos, me sabotando, julgando, me instando a me sentir incapaz.
Mesmo em momentos de paz, onde nada de ruim está acontecendo, sinto que tem algo errado e que ao piscar tudo ao redor terá mudado.
Um mal sem explicação, sem origem definida, apenas o sei presente, me fitando e esperando para me consumir.
Tenho medo de encará-lo e ser engolida por inteiro, não ser capaz de controlá-lo e me manter sã no processo, confronta-lo e ser atraída, por ele, ao abismo de mim mesmo, tenho medo de me tornar o que mais temo.
Assim, preciso estar no controle do meus pensamentos, atos e hábitos, me cercando a todo momento de lampejos das razões que me levam ainda a lutar.
Me isolo quando o sinto vencendo, não por receio do outro, mas porque conheço meu demônio e sei do que é capaz, a humanidade não é algo de que ele se compadeça a ponto de a deixar em paz.
É capaz de queimar o mundo para proteger o que lhe apraz.
Ter consciência de sua existência foi um árduo trabalho de autoconhecimento, o que não livrou os que me cercam de uma vida de decepção e descrença.
Dizem ser ele minha maior força, que não é possível ser um trabalhador da luz tendo medo das sombras, que o trabalho da luz não é feito na luz, e que o verdadeiro poder vem de enxergar além da escuridão.
Que minha trajetória até aqui e os aprendizados que vieram com ela, foi o que me possibilitou despertar e compreender o porquê de eu não ceder.
Que não posso me culpar pelo que passou, a culpa é o sentimento mais inútil que posso sentir, tudo aconteceu como tinha que ser para que encontrasse o melhor de meu ser.
Mas ainda tenho medo e não o posso perder, pois é meu medo que me protege de o deixar vencer.