Uma ode cronicada
Por @andreaagnus
Quantos anos eu ainda poderia continuar adormecida de mim mesma?
Nesse impulso desenfreado de resgatar de qualquer forma minhas funções primordiais e a essência que me mantém de pé: a arte de escrever.
Como um sopro de vida escorrendo por entre os dedos, inundando uma folha sedenta de mim ou eu dela. Nunca consigo definir quem necessita mais de quem, pois o papel em branco a me encarar não é um objeto qualquer, uma coisa inanimada.
As letras pulsam no papel tentando liberar ideias desconexas que se harmonizam à medida que narro uma história que caça a si mesma. Uma faísca que vira labaredas. Um vento frio a anunciar uma chuva torrencial de palavras. Tudo pode ser uma narrativa da minha alma ou das minhas vísceras.
Eu tremo diante de anos de ausência, refugio-me em leituras. Dizem que é o ato de ler que molda uma escritora e lá se vão meses de desculpas, em um mundo tão inundado de tolices cotidianas e tarefas a cumprir para sobrevivermos que se torna mais vazio. Vou caminhando, escutando o eco nas paredes da minha criatividade e as vozes repetidamente murmuradas a balbuciarem: “escreva!” ... “escreva.” ... “escreva...”.
Não dá para viver refém do que a sociedade espera de nós, mas precisamos comer!
... “escreva!”
Ninguém irá me ler!
... “escreva.”
Que importância tem se serei esquecida e ninguém lembrará das minhas palavras mofando em estantes ou perdidas em arquivos não acessados?
... “Escreva!!!”
Porque viver é honrar sua própria essência e não se amoldar ao que é útil ou ao que é digno de reconhecimento.
Formigas fazem sua colônia e abelhas sua colmeia sem precisarem de nenhuma validação. São criaturas tão pequenas como nós diante da grandeza do universo e ainda assim expressam os mistérios da natureza naquilo que constroem com tanta perfeição.
Não nos enclausuremos à espera de grandes feitos. Sejamos gigantes no singelo e impactante ato de narrar nossas emoções através de nossas histórias. Mesmo um conto ficcional celebra nossa verdade, assim como uma crônica coroa nossos pensamentos mais profundos sobre aquilo que somos e o que viemos fazer nessa vida que ressignificamos.
Assim encerro essa ode à escrita: é por amor a existência que escrevo!