Suicídio a conta gotas

Um mal fatal e silencioso. Não percebemos o quanto perdemos. O quanto deixamos de sentir. Sentir o gosto de uma manga madura, o cheiro do perfume de uma flor, o paladar delicioso de uma refeição saudável. Sim, o cigarro inibe tudo isso. Sim, começamos a ficar viciados ao cigarro aos poucos, tragada após tragada, dia após dia, quase a conta gotas, e quando percebemos estamos completamente dependentes desta praga.

Fumo há aproximadamente cinco décadas. Nesse tempo, cada cigarro queimado - quase vinte por dia - me presenteou com um início de enfisema pulmonar. Considero isso um suicídio a conta gotas. E me pergunto: como os acionistas e CEOs das indústrias de cigarros dormem? Como podem colocar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilamente, sendo eles corresponsáveis por milhares de mortes causadas por complicações adquiridas pelo ato de fumar.

E o governo então, que pela ganância da arrecadação de impostos permite que essas empresas existam. Do meu ponto de vista, deveriam ser erradicadas. É fato que os gastos com complicações hospitalares não são compensados pela arrecadação de impostos. Será mesmo?

Sinto saudades de respirar o ar puro, de ver nossas ruas limpas, sem bitucas de cigarros espalhadas por todos os lugares. Quero respirar, ter fôlego para dar uma corrida, para jogar uma partida de futebol. Mas, infelizmente, minha função pulmonar não é mais a mesma. Respiro com dificuldade. Tenho medo do futuro. Tenho medo da evolução do enfisema. Tenho medo de que ele possa virar uma doença mais grave.

CEOs da indústria do tabaco e governo, socorro! Não quero morrer, muito menos morrer a conta gotas...