Rascunhos da Vida

Outro dia, me peguei olhando para trás. Não foi com saudade, tampouco com aquele saudosismo poético que às vezes nos acomete. Foi com o olhar um pouco mais duro, meio embargado. Olhar para trás, às vezes, machuca. Especialmente quando enxergamos com nitidez as escolhas que, se tivéssemos a chance, não faríamos de novamente.

Mas a vida não nos oferece o luxo do botão “desfazer”. Ela segue, impassível. E a gente aprende, entre tropeços e perdas, que até os erros têm algo a ensinar.

É difícil se perdoar pelas decisões tomadas em tempos de ignorância emocional. Quando ainda não sabíamos que certos caminhos tinham tantas armadilhas. Quando a maturidade ainda era semente, e a pressa era a jardineira mais impaciente.

Só que viver é isso: plantar e colher, mas também replantar. Errar faz parte da colheita. E quem disse que crescer seria um caminho reto?

A verdade é que a vida não vem com manuais. A gente tenta, testa, erra, refaz. E no meio do caminho, descobre que os tombos também moldam nosso olhar. Que os erros, apesar da dor, têm a estranha gentileza de nos tornar mais humanos. Mais compreensivos com os tropeços alheios, mais empáticos com o tempo de cada um.

Porque aquilo que hoje parece verdade absoluta, amanhã pode não passar de um rascunho, um esboço do que somos, do que pensamos, do que sentimos. A cada dia, a vida nos convida a revisar nossos próprios conceitos. E há beleza nisso.

Talvez a verdadeira sabedoria esteja em aceitar essa constante reconstrução. Em acolher nossas falhas como parte do processo e seguir, com humildade, ajustando os contornos do que somos.

No fim das contas, o voo mais bonito nem sempre é o mais estável. Às vezes, é justamente aquele que enfrentou as maiores turbulências… mas que, ainda assim, encontrou céu aberto adiante.