alguem parecido
Vi-a de costas, apenas isso. A multidão lhe cedia passagem como a quem carrega em si algum segredo antigo, e talvez fosse isso que me levou a crer que era ela. O mesmo passo, o mesmo desalinho estudado dos cabelos, o leve vaivém do vestido — e, sobretudo, aquele modo de ir embora como se o mundo não importasse.
Julguei prudente segui-la, embora a prudência, nesse caso, fosse puro disfarce da saudade. Apressei o passo, desviando de ambulantes, empurrando um cidadão de bigodes que protestou em francês (o que é sempre mais ofensivo), tropecei no salto de uma senhora e fui xingado por um rapaz de chapéu panamá — que, aliás, parecia não ter pressa nenhuma além de me atrapalhar.
Segui, suando, arfando, com dignidade aos pedaços, como convém a quem já amou e ainda se recusa a admitir o ridículo de certas esperanças.
Mas a figura virou uma esquina e desapareceu.
Não era ela, naturalmente.
Mas, convenhamos, a perseguição valeu pelo teatro.