O tempo e sua crueldade
Albert Einstein diz que o tempo é relativo. Sua ideia não está errada, mas ele poderia ter adicionado só mais uma palavrinha para que as pessoas entendessem que, por mais que ele passe de forma diferente para cada um — dependendo do ambiente em que um ser está — ele sempre vai passar. O tempo é relativo e cruel.
Com essa simples palavra, Einstein poderia ter salvado muita gente do sentimento de culpa por dormir brigado com um familiar e acordar com a notícia do seu falecimento; do arrependimento de um pai que perdeu a infância do filho; da dor de não falar o que sente enquanto ainda tinha a pessoa amada por perto.
Mas Einstein não tem culpa sobre isso. As pessoas sabem que o tempo sempre escorre pelas mãos. Sabem que são incapazes de voltar ao passado para mudar ou viver novamente algo que aconteceu. Achamos que sempre temos certeza daquilo que é incerto. Quem garante que o sol vai nascer no dia seguinte? Que vamos dormir e acordar? Que vamos sobreviver a uma simples gripe?
É assim com o tempo. Mas ele não é incerto. Sabemos da certeza de que ele passa — e sempre vai passar, a qualquer custo. Porém, preferimos nos fazer de cegos, e só abrimos os olhos quando choramos por uma oportunidade perdida ou por um momento mal aproveitado. O tempo é a chama que acende a fogueira dos momentos. Quando a chuva vem e apaga o fogo, só restam as cinzas. As memórias.
As memórias que, com o passar do tempo, abrem espaço para um novo sentimento. Um sentimento carregado de tristeza, saudade e morte interior: a nostalgia. Sempre que abrimos um álbum de fotos, sentimos um cheiro que remete ao perfume de alguém importante, comemos algo que tem gosto de infância ou escutamos uma música que nos leva ao passado outra vez, cada pedacinho do nosso presente morre. Não morre de forma fisiológica. Morre de saudade. E essa é a consequência da crueldade do tempo.