Cuidar de si é também saber calar o mundo
Aprendi do pior jeito: confiança é como a pele — se você deixa exposta por muito tempo, alguém vai rasgar.
E nem é pessoal. O problema é que as pessoas andam apressadas demais pra pensar, e rápidas demais pra julgar.
Julgam porque é fácil. Porque dá poder. Porque ouvir e compreender exige esforço — e pensar, como diria Arendt, é um risco que muita gente não está disposta a correr.
Durante muito tempo, deixei o barulho alheio entrar.
Comecei a duvidar de mim por causa do que diziam sem saber.
E o que eles sabiam? Nada.
Só viam o rascunho, o fragmento, o instante congelado de uma realidade que é só minha.
Mas mesmo assim, doía.
Porque ser julgado por quem não escuta é uma das formas mais silenciosas de se perder.
Como apontou Foucault, o olhar do outro pode ser uma forma de controle — e quando você deixa isso te definir, já não vive… atua.
Aos poucos, fui entendendo: ou eu escolhia me escutar, ou viveria me adaptando ao gosto alheio.
E isso não é humildade — é autossabotagem.
Nietzsche avisava: "Torna-te quem tu és." Mas como, se a cada passo, tem alguém tentando te explicar como você deveria ser?
Hoje, sou menos dócil com opiniões que não pedi.
Não deixo qualquer frase me atravessar.
Se alguém vem com julgamento, eu pergunto: “com base em quê?”
E, quase sempre, o silêncio entrega a falta.
Schopenhauer dizia que a opinião dos outros é uma das formas mais baratas de poder.
E é.
Gente que nunca construiu nada tentando ditar o rumo de quem está com a mão suja de vida, de erro, de tentativa.
Pois bem: eu sigo com a mão suja, com a cabeça erguida e a alma intacta.
Não pra provar nada. Mas porque sei o que estou fazendo. E não vou dar palco pra eco de vozes que nunca pararam pra escutar de verdade.
Tô construindo algo real aqui. E quem não entender, que não atrapalhe. Quem não respeitar, que se retire. E quem me julgar… que arque com o peso de carregar verdades que nunca foram suas.
— Eu, a que aprendeu a se proteger sem se apagar.