Ser mãe, e só
Há algo de divino no simples gesto de uma mãe ao ajeitar o cobertor do filho durante a madrugada. Um gesto que não conhece religião, não se dobra diante da cor da pele, não interroga o amor que a move. Ser mãe é um estado de alma, um verbo conjugado no silêncio, na renúncia e, sobretudo, na entrega.
Hoje, minha crônica é um grito doce de gratidão. A todas as mães. Sim, todas. Às que geraram no ventre e às que pariram pelo coração. Às que amamentaram e às que embalaram com o olhar. Às que vestem saia, calça, batina ou jaleco. Às mães de sangue, de luta, de adoção, de opção, de convicção. Às que enfrentaram olhares tortos por desafiar padrões. Às que criaram sozinhas, aos trancos, mas com amor suficiente para o mundo inteiro.
Mãe é aquela que enxerga além do que o filho mostra. Que adivinha febre pela voz, que detecta tristeza pelo suspiro. Que sofre no osso quando o filho tropeça, mesmo que o tropeço seja na alma. Que se vira em duas, três, mil, para pôr comida no prato, esperança na mochila e afeto nos bolsos.
E quando falo de mãe, não importa se ela ama outra mulher, se veste branco nas sextas, se tem axilas cobertas de tatuagens ou véu sobre a cabeça. Mãe é mãe. Não há selo mais verdadeiro. Não há diploma mais exigente. Não há amor mais bruto e, ao mesmo tempo, mais delicado.
Quantas mães sem rótulo nos salvaram sem saber? Quantas mulheres, travestis, homens trans, avós, tias, madrinhas, vizinhas assumiram esse papel por amor puro e instintivo? Quantas vezes fomos acolhidos por um colo que não cabia na definição tradicional, mas nos salvou com a mesma intensidade?
Ser mãe é sobre existir para o outro sem se anular. É fazer do coração um abrigo. É ser lar, mesmo sem endereço fixo. É doar-se sem medida, é chorar escondido, é vibrar com cada pequena vitória de quem se ama mais do que a si.
Hoje, ergo essa crônica como quem ergue um altar: para honrar cada mãe que, com ou sem reconhecimento, com ou sem aplauso, planta amor no mundo com as mãos calejadas da vida. Que seja mãe preta, indígena, branca, asiática, gorda, magra, cis, trans, rica, pobre, de qualquer parte — é o coração que faz o milagre.
Obrigado, mães. Por serem luz mesmo quando tudo escurece. Por não desistirem mesmo quando o mundo desaba. Por nos ensinarem, com o exemplo, o que é o amor em sua forma mais crua, forte e bela.
Ser mãe, e só. E isso basta. Porque é tudo.