Ouvi Dizer um Livro

Eu num sei se cês vão acreditá, mais foi tudo vdd. A prof. levou a gnt pra Bienal do Livro, lá em BH, e disse que era pra nois aprendê um monte de coisa e ficá mais sabidim. Só que o que ela num sabia é que os livro lá... ELES FALA!

Juro pela borracha mordida do meu estojo!

Quando eu cheguei, já senti um trem esquisito, tipo um cochicho de papel. Aí eu cheguei perto de um livro de capa amarela, com um dragão doido na frente, e ele me disse assim:

— Ô menino, num vai só passá não... me lê aí, uai!

Eu dei um pulo que até a Larissa, que tava do meu lado, falou:

— Cê tá doido?

Mais eu não tava doido não, era o livro mesmo! E não foi só ele não... outro livro, um de capa azul, com estrela que brilha, começou a cantar musiquinha de dormir. E eu nem tavam me sentindo com sono!

Eu falei com a prof.: — Ô prof., os livro tão falando com a gnt!

Ela riu e disse: — É a imaginação, Joãozinho.

Mais eu sei que não era imaginação. Era magia, dessas que nem precisa de varinha. Era tipo... os livro querendo falá com nois porque tão muito tempo calado.

Um deles disse pra mim: — Se ocê me abrí, eu vamu junto pra lugar que só existe aqui dentro.

Aí eu pensei que era tipo viagem de fogueti sem sair do chão. E fui abrindo, e cada página era tipo uma porta. Porta pra floresta, porta pra planeta, porta pra castelo, até pra escola de bruxaria (mais sem aquele menino da cicatriz).

Os livro falava comigo e com meus colega tudo. Um falou com a Bia sobre princesa que não queria se casá. Outro contou pro Pedro que dinossauro também tinha medo às vez. Até pro Lucas, que só gosta de futebol, teve um livro que ensinou como fazer gol de letra!

Na volta, no busão, todo mundo tava mais quietim, mas com os olho brilhando. Acho que todo mundo ouviu um livro falando alguma coisa naquele dia.

E eu? Eu ouvi dizer um livro. E ele disse que, quando a gente lê, é tipo conversar com o mundo inteiro. Só que baixim, só a gente e ele.

Falei pra minha mãe: — Mãe, cê num sabe. Hoje um livro falou comigo.

E ela respondeu: — Ah, meu filho... quando o livro fala, é porque o coração da gente aprendeu a escutá.