Mãe solo (para o Dia das Mães)
À primeira vista, parece que o título se refere à descrição de uma vida em que criei meus filhos sozinha, sem a companhia de um marido ou de um pai presente. Mas não. Nunca fui uma mãe totalmente solo — mas hoje sou. Eles se foram, porque cresceram. É o natural. Que bom que foi assim; significa que se tornaram fortes e independentes o suficiente para deixar a zona de conforto.
E, por mais que sofra pela ausência deles, sinto-me feliz e realizada. Os dois já me deram razões suficientes para perceber que eu dei certo como mãe. Venci aquela etapa longa da vida em que as mães se questionam se desempenharam bem o seu papel. É que não existe um ensaio antes de entrar em cena. Vai-se atuando, errando, improvisando — e não há tempo de respiro até que se escute: “Gravando!”
Mas só tive a certeza mesmo de que fui uma boa mãe quase às vésperas do meu trigésimo primeiro aniversário de mãe. Meu filho mais novo — vinte e três anos — me enviou um reels em que um adulto, fingindo ser criança, cantava e dançava ao som de “Avião sem asa”, de Claudinho e Buchecha, mas que, na voz de Adriana Calcanhotto, virou música-tema do Dia das Mães. Era para ser engraçado — e foi. Mas, para mim, foi algo muito além disso. Ele mostrou que não apenas se lembrava do dia em que, com todas as suas forças e com os olhos brilhando, cantou essa música para mim — mas também que aquele momento foi especial para ele. Então, concluí: eu venci como mãe.
Dias depois, minha filha mais velha — de trinta anos — estava na apresentação do Dia das Mães na creche de seu filho (sim, já sou avó) quando me mandou um vídeo pré-apresentação, no qual, ao fundo, tocava a música do Roberto Carlos Como é grande o meu amor por você — tema oficial do Dia das Mães. Uma música atemporal, de 1967, que faz muita gente chorar até hoje. Inclusive eu.
Pensei que ela estivesse me enviando aquele vídeo apenas para mostrar como estava tudo arrumado para o início da apresentação, então comentei: — Você cantou essa música pra mim no Dia das Mães.
— Sim. Por isso te mandei — disse ela.
Eu não imaginava que ela pudesse se lembrar a ponto de me dedicar essa música... mais uma vez. E novamente concluí: venci como mãe. Desde a primeira vez.
Na véspera deste atual Dia das Mães, fazia faxina e, ao limpar uns livros, encontrei algo que comprovava que eu já havia vencido essa façanha de ser mãe há muitos anos — só não sabia.
Uma florzinha seca, entre as páginas de uma Bíblia, me fez voltar ao tempo em que meu filho ainda era bem pequeno. Em uma viagem a Caratinga, Minas Gerais, para visitar minha mãe, estávamos passeando no jardim da Catedral São João Batista quando ele me entregou a florzinha que, desde então, guardo entre páginas. Hoje, ela não tem cheiro nem cor, mas ainda me lembro: era pequena, frágil e lilás.
Outro livro me chamou a atenção — como um epílogo dessa história em que, por vezes, duvidei da minha capacidade de deixar um bom legado como mãe. Pela data, minha filha devia ser adolescente. O presente foi somente dela. Imagino que tenha usado suas economias da mesada para me presentear. O título do livro: Mamãe, eu super te amo! — e, na capa, uma mãe com sua filha. A dedicatória com a frase: “Quero que saiba que te amo mais que tudo” foi o desfecho final.
Perdoe-me, Deus, por um dia ter duvidado da minha capacidade de ser mãe — de ter sido uma boa mãe. Afinal, não poderia ser diferente, se foi Tu quem me capacitaste.
E aos meus filhos, agradeço por me fazerem enxergar que, mesmo sem saber se estava fazendo a coisa certa... eu fiz! E deu certo. Porque, com amor, não tem como nada dar errado.