CENA FINAL DE UM AMOR


1749617.png

(Minha mãe, eu e minha irmã Maria Lucia)

 

O tempo tem o poder de transformar lembranças em presenças suaves. Quando penso na minha mãe, as imagens mais vívidas surgem de um tempo simples, em Ubatuba. Caminhávamos descalços pela praia, sem pressa, sem direção. Éramos crianças seguindo uma figura que nos guiava com naturalidade — ela, linda em sua leveza.

 

Sempre notei os detalhes. O batom suave, o colar discreto, os olhos com sombra e aquele caminhar gracioso. Até as mãos e os pés dela me chamavam atenção — havia uma elegância silenciosa em tudo. Mas o que mais lembro é sua insistência em me ligar todos os dias no trabalho. Na época, confesso, achava exagero. “Por que ela me liga todo santo dia?”, eu me perguntava. Hoje, trocaria qualquer coisa por um desses telefonemas.

 

Queria tanto ouvir sua voz dizendo meu nome. Tanta coisa ficou por dizer. Tantos pensamentos que só agora fazem sentido, quando me vejo refletida nas atitudes da minha filha. O ciclo se repete, e junto com ele vem a compreensão que só amadurece com o tempo.

Lembro de você entrando no meu quarto sem pedir, sentando-se em silêncio, observando. entrando devagar no meu quarto, observando em silêncio. Um dia chorou ouvindo Roberto Carlos cantar “A Atriz”. “Tão romântico”, disse.

 

Hoje, mamãe, você vive nos álbuns, nas cartas e nas cenas que se repetem como filme em minha memória. Mas mais do que isso: vive em mim, nos meus gestos, nas palavras que repito sem perceber.

E como eu queria, só por um instante, deitar minha cabeça no seu colo de novo — e chorar com você o final da novela.

 

 

 

Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 11/05/2025
Código do texto: T8330325
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.