ACORDEI ANTES DE SER PRESO

Eu tive um sonho bom noite passada, aliás não somente bom, ótimo, maravilhoso, tão revigorante para a alma que me fez bailar quando acordei. Porque nele extravasei tudo da alma, desde a indignação até a revolta mais pungente, a raiva há muito contida, a vontade de falar cada verdadeiro nome das coisas que costumamos esconder por causa do medo.

Sim, sonhando não me calei, e embora sem gritar, apontei o dedo implacável em direção às feridas abertas, revelei a covardia dos vários, ofereci minha vida à imolação se necessário pois afirmei que depois do desabafo certamente me poriam a ferros, que provavelmente eu desapareceria, e ciente desse perigoso risco conclamei a quantos poderiam realizar meu pedido no sentido de contar ao mundo aquele momento fatídico.

As pessoas em derredor na imensa sala onde eu me encontrava olhavam com admiração e espanto na minha direção, sem acreditar na inesperada coragem do cidadão franzino e baixinho como Rui Barbosa expondo o câncer de todos conhecido, porém da maioria escondido sob as sombras do pavor. Conscientes do quanto os algozes fariam comigo logo a seguir por escancarar tudo, do nefasto corredor polonês cuja travessia eu iniciara ao abrir as comportas da verdade engasgada na garganta da grandiosa maioria.

Expus por inteiro item por item, temas específicos e assuntos especiais, olhei nos olhos deles, no alto de sua arrogância, para perceberem como naquele instante a larga porta do apocalipse se abria objetivando deixar claro quem eles são e a maldade que fazem, então avistei a espuma do ódio descer por seus lábios sujos de palavras e frases injustas. Não me importei, de nada valia viver se não me embrenhasse na missão suicida de mostrar a cara petulante daqueles seres inomináveis. Agora o planeta inteiro iria saber, cumprida estava a tarefa a que me propus. Durante duas horas tudo que precisava ser dito, foi, apesar de apenas por intermédio de um sonho. No entanto, o melhor e mais importante detalhe do histórico relance utópico foi acordar antes de ser preso.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 15/05/2025
Reeditado em 15/05/2025
Código do texto: T8333160
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