Uma Breve Visita ao Outro Lado dos Portões Vermelhos
A subjetividade da moral humana beira o caos dos campos quânticos. Julgar um ato como certo ou errado já é tarefa que se falha diariamente, caso contrario o mundo já estaria mais pacifico. Se considerarmos o fator de peso, comparar quais dois atos é mais horrendo, qual o critério? Matar um inseto é diferente de matar uma galinha? Matar um inseto por acidente é diferente de por um prazer sádico em ver a criatura morrer? E quando morta por apresentar perigo? Quando fornece alimento? Quando em sofrimento irremediável? Exponencia-se ainda quando inserimos nossa espécie humana na equação, e tende ao infinito ao se considerar o peso de laços sociais e relações afetivas. Por fim, se quebra e se fragmenta com a individualidade, onde qualquer ser tem a liberdade e o poder de simplesmente negar qualquer moral e agir sem qualquer consideração pelas consequências.
Por que se ataca alguém? Ignoremos, no momento, o contra-ataque, pois muitas vezes possui caráter defensivo. O que gera o primeiro golpe? Repara que aquele que dá um soco no criminoso ao perceber uma tentativa de furto, apesar de fisicamente dar o primeiro passo, o primeiro golpe fora dado pelo batedor de carteiras, ao atacar a vítima de seu crime. O primeiro golpe consiste na desarmonia. Na perturbação de um estado de ordem em busca do caos, e a ordem novamente é atingida ao fim de tal período de conflito caótico. O único motivo para se atacar alguém é o descontentamento com a Ordem vigente, seja em micro ou macro perspectiva, buscando deturpá-la através do Caos e, quando bem aplicado, atingir uma ordem que agrade mais o atacante, e quando mal aplicado, um retorno a ordem vigente.
Hoje, em completa ira, vi defronte a mim os Portões Vermelhos. Não neste plano material, mas nos olhos de minha mente, escancarados, vazando chamas ardentes de seu interior, que mesmo excruciantemente quentes, não fornecem a menor das iluminações para a escuridão de seus domínios. Já os vira e os cruzara diversas vezes, sempre para caráter de estudo, para processos defensivos ou até mesmo por mera curiosidade. Dou um passo e os adentro, com a intenção, neste dia, de propor um plano de ataque. Um ataque comedido e moderado, que seja suficiente para expressar meu desgosto com a Ordem Vigente, sem tornar-se uma busca sangrenta de vingança. Um segundo round, e nada mais. Me sento perante ao fogo e retiro de meu bolso um pequeno objeto. Tua natureza não importa, basta narrar que, embora não houvesse impacto financeiro, tal objeto me acompanhara por metade da vida, representara um enorme aspecto de meu ser, e reconheço-o como aquilo de mais valor emocional individual que possuo.
Ofereço às chamas um pedaço de minhas memórias e meu ser. O vejo queimar, sentindo um pedaço de minh'alma sendo lentamente apagado. Ofereço, com estas cinzas, meu prazer e parte de minha identidade. Em troca, peço que o Céu Negro brilhe sobre aquela cabeça. Que Júpiter se esconda no abismo e retire sua misericórdia. Que Vênus brilhe escura e fria, iluminando a dança dos corvos negros da ilusão. Que Lilith olhe do céu todas as noites. Que o sol se torne seco e árido, que saturno acelere subitamente e depois pare. Que a guerra se inicie do terreno baixo, que a mente se dissolva e escorra por cada planeta. Não retire nada daquela cabeça, não a toque, não a destrua, não a afete em nada. Apenas traga comigo, para além dos portões vermelhos, o Céu que tal humano tanto procurou, e deixe-o experienciar. Coloque-a atrás dos portões vermelhos que tanto romantizara, e deixe-a aproveitar. Quem sabe tal ataque não a torne uma mestra dos Planetas do Submundo.
Todo ataque, nobres almas, por mais comedido que seja, trás consigo incalculáveis consequências. Afirmo, ao fim do manifesto, que delas estou ciente e as aceito conforme seja a vontade do Cosmos. Aceito o que me for cobrado para perturbar tal ordem em especifico, e novamente visitarei o caos. Julguem, nobres almas, teus ataques, pois nunca saberão o preço até o cobrador bater em tua porta, e só tomem ação nas mais inaceitáveis condições para teu ser.
Que cerrem-se os portões, que se entregue a energia. Que se dispare a flecha, que se guarde o arco.
Que se faça o silencio, pois nada mais há pra ser feito.