A elite é uma ave de rapina insaciável
Há muito tempo o Brasil aprendeu, ou finge não aprender, que a elite política do país tem mais semelhança com aves de rapina do que com servidores públicos. São predadores elegantes, empoleirados nos gabinetes refrigerados, com olhos treinados para identificar oportunidades de saque, nunca de serviço. Enquanto a população rala o pão dormido com café aguado, eles banqueteiam-se no silêncio dos bastidores, afiando as garras para a próxima oportunidade de arrancar mais um pedaço da carne social.
Essa elite não se satisfaz com o básico — nunca se satisfez. Ela é insaciável. Rouba verbas da merenda escolar, superfatura obras públicas, transforma a saúde em balcão de negociatas, e ainda se apresenta em rede nacional como salvadora da pátria. Suas falas são ensaiadas, seus gestos calculados, mas suas intenções sempre denunciam o mesmo instinto: o de quem voa alto, mas só pousa para devorar.
E o povo, cansado e anestesiado, muitas vezes não enxerga o voo do abutre. Confunde o brilho das penas com competência, o discurso bonito com solução. Mas basta uma crise, uma calamidade ou uma eleição para vermos o verdadeiro rosto da elite política: gananciosa, fria, estratégica — uma criatura que só conhece a linguagem da vantagem própria.
Os escândalos se sucedem como capítulos de uma novela suja, onde nenhum vilão é punido de verdade. Lava Jato, mensalões, rachadinhas, orçamentos secretos — a cada episódio, a esperança da população sangra um pouco mais. E mesmo quando um político cai, outros se apressam para ocupar seu lugar na carniça, como se houvesse uma fila de predadores prontos para o banquete.
A elite política brasileira é, enfim, uma ave de rapina insaciável: vive do alto, longe da realidade das ruas, mas com visão aguçada para tudo o que possa alimentar seu poder. Enquanto o povo não aprender a cortar as asas dessas aves, elas continuarão voando sobre nossas cabeças — e, pior, comendo do nosso suor, da nossa dignidade e do nosso futuro.