O Poder do Silêncio
Cara...
Será que valeu tudo? As lições que a vida nos dá?
Reparou que o Silêncio ativo entre nós e que eu alimento é o responsável por manter nossa amizade?
Chega um ponto em que não consigo mais te falar nada, Cara. Nada. Nada do que eu disser vai fazer diferença a ti. Você irá contestar tudo o que eu disser. Irá discordar do que eu falar, disser... São minhas opiniões contra as tuas, não, Homem?
Eu me afobei, num momento de desespero, e te fiz a mesma pergunta pela enésima vez. Isso te deixou irritado. Normal. Eu teria ficado irritado também. Não tiro tua razão. Mas Você me cobrou, um tempo atrás, coisas desagradáveis que eu te disse há mais de duas de décadas. Cara, que diferença isso faz agora?
A nossa amizade, para ser mantida, agora e daqui para a frente, dependerá de nosso silêncio um para com o outro. Que coisa mais estranha essa. Depois de tudo. Você tem o teu direito de esbravejar por se sentir ofendido, faz parte, tá certo. E eu, de fazer silêncio para não falar mais nada que vá te irritar para ouvir outra reclamação de Você. Percebe como as peças se encaixam? Quando a gente faz silêncio, coisas inadequadas deixam de ser ditas e, por conseguinte, de magoar.
Compreende o meu ponto agora? Pense no meu silêncio como um cimento poderoso que mantém os tijolos unidos. Os blocos unidos. As paredes em pé. É isso. O Silêncio é prece.
Me parece muito estranho que uma amizade de décadas agora precise do silêncio para ser mantida. Isso soa um tanto irônico. Não poder emitir um pio. Não poder ficar falando (via mensagens no WhatsApp) para não falar coisas que ou não serão bem recebidas ou não trarão nenhum lucro à conversa. É-me estranho isso – apesar de eu ser leitor dessa cartilha. De eu aplicar essa cartilha.
O Silêncio da Vida deve nos preparar para o definitivo Silêncio do pós-Vida. Quem quer músculos fortes, uma aparência digna de um ser humano forte em termos físicos, sabe que tem que treinar muito e de modo constante, não?
No passado eu teria escrito essa mensagem à beira de minha cama. Em folha sulfite A4. Com caneta azul e título à tinta vermelha, centralizado. A mídia difere. A mensagem, não.
Para NÃO concluir, há muito mais barulho sob tanto silêncio do que se pode imaginar. Há uma alma gritando. Falando. Reclamando. Criticando, chorando, fazendo várias perguntas. Mas o silêncio não permite que ela seja ouvida. Por outro lado, o silêncio é danado; agressivo, ele vai mais longe. Machuca. Vai aonde as palavras não conseguem chegar. E aí se torna Senhor. Com o tempo, se fortalece. Com muito tempo, se absolutiza. Tornando-se muito mais difícil de ser quebrado...