OS MINEIROS

- Rose, minha fiel companheira, hoje vamos começar a mudança. Aproveitei que o Paulo foi fazer um curso no Rio de Janeiro, tirei uma semana de folga no meu trabalho e espalhei as crianças nas casas dos avós. Ainda bem que o outro apartamento é aqui em Guarapari mesmo, bem aqui na nossa rua. E o melhor de tudo é que as coisas mais pesadas já estão lá. Temos cinco dias para carregarmos o resto, devagarinho, enquanto os pintores e os marceneiros acabam o serviço. Nestes dias, vamos ficar mal alojadas, comendo porcarias, pois não temos condição de fazer comida. O importante é que sábado o apartamento novo já estará arrumado para a chegada da galera.

- Blim-blão... Blim-blão...

- Ué! Quem será, Rose? Olhe no olho mágico, por favor.

- É uma muié lôra, gordona, com trêis criança morena. – falou baixinho, a empregada.

- Não!!! É a tia do Paulo, de Belo Horizonte! O quê que ela veio fazer aqui, meu Deus?!

- E agora, dona Patríça? Abro ou num abro a porta preles entrá?

- Abra logo e seja o que Deus quiser.

Ei tia Aparecidinha! Oi crianças! Que saudade!

- Nós, também, estamos com saudade de vocês! Uai!!! Cadê o meu sobrinho e as crianças?

- Despachei todo mundo. Rose e eu estamos por conta de terminar a nossa mudança. Como a senhora está vendo, parece que passou um furacão aqui em casa. Está impossível ficar no meio desta bagunça. Estou atacada de alergia por causa da poeirada e espirro sem parar.

- Não se preocupe. Somos de casa . O que nos interessa é a praia.

- Bem, então, vão entrando e se ajeitando como puderem.

Nem bem chegaram, os mineiros vestiram suas roupas de banho e saíram. Mais tarde...

- Patricia, o marzão estava maravilhoso! Que água deliciosa! Guarapari é de-mais!!!

- Mamãe, quero comer um trem.

- Eu também.

- A minha barriguinha está roncando, mãe.

- Rose, tem alguma coisa, aí na cozinha, para os meninos mastigarem?

- Tê, tem, só num sei adonde.

- Esperem um pouquinho que nós vamos ao self service, aqui perto.

Passaram-se quatro dias e nada da tia se “mancar”. A desculpa era que não tinha passagem.

- E aí, tia Aparecidinha? Já cansou de ficar “acampada” aqui em casa? A senhora deve estar “morta” de saudade da sua caminha gostosa, não é mesmo? O tio, sozinho lá em Minas Gerais, deve estar sentindo tanta falta da senhora! Estou com peninha dele.

- Que nada! Por ele ficaríamos uns três meses por aqui! Ele nem liga!

De noite, Rose foi comprar duas pizzas gigantes e um litro de guaraná para jantarem.

- Blim...Blão... Blim... Blão...

- Minha Nossa! Quem será a esta hora, tia?

- Deve ser uns amigos de BH que encontrei na praia da Areia Preta.

Olá!!! Entrem! Não reparem. Minha sobrinha está se mudando.

- Rose, peça mais quatro pizzas e mais três litros de refrigerante. – cohichou a patroa.

No outro dia...

- Bom dia, tia! Puxa, é tão cedo e a senhora já está indo comprar as passagens de volta?

- Eeeeeeeeu?! Olha pro cê vê que sol lindo! Já que não deve ter passagem, vamos curtir a praia dos Namorados e procurar a Adalgisa, a Cleusa, O Cido, a Dolores, a Liça, o...

Anna Célia Dias Curtinhas