Querendo mais...

Querendo mais...

Vivemos sempre querendo mais, sempre mais, eternamente mais...

Que sêde de sempre querer, sempre desejar tudo aquilo que a ambição alcança!

Nada nos sacia, não mata os infinitos anseios do sempre almejar tudo...

E assim vamos cozinhando ilusões, desejos infindáveis de tanto buscar...

A ansiedade, os sonhos que nos atropelam, as vontades que nos dilaceram...

Oh, alma insana de esperar sempre, do querer sem limites!...

Vivemos sedentas de conquistar tudo que a vã consciência nos avassala

Nos atropelos da vida, atropeladas estamos cada vez mais, sem tréguas

Sem estacarmos as conveniências, o mundo que se vive, o ar que se respira...

E, no vacilo que mergulhamos, mais afundando estamos em desejos insanos...

Se já temos um amor, não nos basta, é muito pouco, pequenino demais

E, lá vamos nós à procura de outra novidade, de outro sabor de amor

De um amor consolador, bombocado de luz e calor, doce e apetitoso...

E vamos nos lambuzando do mel que cegamente queremos e nos consolamos.

Se temos sêde, um copo só não nos basta, queremos mais água, muitos goles

De gole em gole vamos nutrindo as dementes ilusões com líqüidos da ambição

Ah! Que sêde, quero os sucos de amor, de esperança, de vaidade, de emoção...

Amigos? Quero muitos que me aconcheguem, que me abracem, que me adorem

Porque um só é nada, quero muitos à mão cheia, em egos de amizade

Sei mesmo, que querer muito pouco acrescenta, e insensatas nos perdemos

Calma! Diz um voz murmurante, chega de quantidade, veja mais qualidade.

Das flores quero todas, almas, luzes e amores em fragrâncias disseminadas

Sem escolhas, da mais linda às mais singelas, dos matizes que esparramam

Gotas de luz, cintilantes, amorfas, delirantes, fantásticas, beligerantes

Para que me envolvam em clarões de quimeras cheias, de fulgores alucinantes

Queremos mais o que aparecer, qualquer coisa que satisfaça o enternecer

De mansinho em mansinho, vimos que ficamos sozinhos, pequenininhos...

A boca escancarada murcha, os braços quedam-se no vazio, caidos, sentidos

Parcas razões emudecem, porcas demais padecem e a soluçar desfalecem...

Calma! Há tempo ainda para reabilitar, para tentar salvar o que passou...

Contentemos-nos com o que restou de verdades, em sensatas realidades ...

Maria Myriam Freire Peres

Rio de Janeiro, 11 de fevereiro de 2008

Myriam Peres
Enviado por Myriam Peres em 11/02/2008
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