MISSÃO CUMPRIDA

O protagonista desta estória vou chamar de Carlos. Pastor Carlos. Ele é um sujeito abnegado que trabalha na recuperação de jovens dependentes químicos. Trabalho muito bonito. Ele anda pela cidade de Manaus arrecadando fundos para sustentar a casa de recuperação de jovens.

Visitava-me com freqüência, oferecendo artesanato feito pelos internados. Confeccionados com pouco profissionalismo, mas com muito amor, segundo ele próprio. Tornamo-nos companheiros de longos papos depois da terceira ou quarta visita dele. Bom de prosa, empolgava-se quando falava dos progressos que seus “alunos” faziam. Já contava com ajuda de ex-alunos em seu lindo trabalho. Já tinham até gravado um CD com o coral dos alunos.

O Centro de recuperação está localizado há mais de 40 quilômetros da cidade de Manaus, às margens da rodovia. O Pastor era uma espécie de fax totum da instituição: arrecadador de fundos, vendedor de produtos dos internos, orientador espiritual, professor e sempre um bonachão com uma palavra amiga.

Um dia ele me procurou, não para vender nada nem pedir donativo algum, mas para contar um relato, sabendo que eu tenho uma maneira nada ortodoxa de ver certas situações. Notava-se que ele, sempre tão seguro de si, estava transtornado. Ele pigarreou, passou a mão na garganta, me pediu que não revelasse a ninguém o motivo da visita e nem o assunto que iria tratar comigo. Começou:

- Todos os dias de manhã, quando estou no centro de recuperação, aproveito uma descida que tem na rodovia e faço uma caminhada. É um bom exercício porque desço mais de 500 metros, subo um pouco da colina no outro lado e depois volto descendo e subindo, novamente. Há três dias, quando eu ia chegando na descida do morro, um rapaz, com camisa colorida me chamou pedindo que olhasse a ribanceira pois havia um carro caído e gente precisando de ajuda. Corri, mais que depressa até o local que o rapaz apontara e vi o carro caído, batido contra uma enorme pedra, mas com as rodas no chão.

Nesta altura, Carlos tomou um copo de água e continuou:

- Desci tão rápido quanto pude e vi que era uma Hilux, cabine dupla. Havia duas pessoas no banco de trás, desmaiadas, mas vivas. No banco da frente uma senhora gemia, mas não parecia machucada. O motorista estava deitado sobre o volante. A roupa dele me chamou a atenção. Quando levantei a cabeça dele tive a confirmação: Era o mesmo rapaz que me abordara na estrada minutos antes.

Ele tomou mais um pouco da água e continuou:

- Nisso alguns carros estavam parando e gente chegando. Pedi a eles se viram um rapaz de cabelos longos vestindo uma camisa colorida. Ninguém tinha visto nada, só eu. Eu juro pelo meu pai, que é a mais pura verdade.

Ele ficou visivelmente aliviado quando respondi:

- Eu acredito em você!

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 15/02/2008
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