Sonhos

Os sonhos permeiam toda a existência humana. Sonhos pequenos, grandes, coloridos ou em preto-e-branco transitam nos corações, pulsando descompassadamente em doce frenesi. Transeuntes, posseiros, inquilinos, acabam por colorir em tons de arco-íris as paisagens da nossa alma, fazendo-nos descobrir novos matizes, à medida que nossos olhos os vislumbram. Muitas vezes, nem notamos sua presença...ficam a nos espiar sorrateiramente, aguardando sabiamente que os nossos corações possam vê-los e senti-los.

Os sonhos nunca andam sozinhos...terminam por acasalar-se com outras emoções. São como corredeiras que, ao passarem por entre penhascos, arrastam o que abarrota as prateleiras da nossa alma.

De certo, o maior parceiro dos sonhos é a esperança. Andam de mãos dadas, cúmplices a nos acenar afetivamente...acarinham a nossa tez, fazem serenatas nos portais da nossa vida, entoam melodias, criando notas musicais desconhecidas. Aportam como nau em busca de porto seguro, falam-nos de beijos guardados e de abraços roubados...lançam-nos âncoras, fazem-nos aprender a conjugar verbos esquecidos em porões.

Existem sonhos que permanecem dormindo...jamais despertam, esgueiram-se da vida, da possibilidade do encontro com o Sol e do namoro com a Lua. Aprisionam-se em teias, enroscam-se nos limites dos nossos passos, nas amarras da nossa incredulidade.

Existem sonhos que bocejam, espreguiçam-se...apesar de acordados, resvalam nos nossos precipícios, nas nossas censuras. Enxergam o mundo, escutam os sons da vida, permanecendo, todavia, em casulos. Ouvem o barulho das ondas, avistam o azul do céu, porém o mistério e a grandiosidade do mar os detêm. Sonolentos, acabam por fincar raízes em cárceres privados...e são sufocados em pesadelos.

Existem sonhos que acordam, que se expõem...correm sem máscaras ou disfarces, soltos no mundo. Andam descalços em nossas ruas, desejosos por fazerem almas sorrir. Céleres, ousam, assumem riscos, brincam numa roda de ciranda...não se perdem em ensaios ou labirintos; gritam por vida e são esculpidos em algum lugar deste imenso planeta. Concretizados, lançam-se de novo como sementes, porque esses sonhos não param, são incansáveis...partem como pássaros em busca de outros céus que acreditem em novas quimeras.

© Fernanda Guimarães

Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 28/02/2008
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T879050