Um "mestrezão", por Ricardo Velloso*

 

         Os principais cursos pré-vestibulares de Porto Alegre, no fim dos anos 70, eram Mauá e IPV. A partir de 1977, as dissidências levaram um grupo de professores a montar os dois principais cursos da atualidade que são, respectivamente, Unificado e Universitário.      Naquele tempo, os professores de cursinhos eram como jogadores de seleção, pelo carisma principalmente. Vale a pena relembrar alguns nomes: Appel, Fogaça, Mandelli, Paulo Simões, Castellano, Alfredo, Túlio, Gatto, Gianotti, Fulgêncio, Beleza, Flávio, Lontra, Eufrázio, Menegotto, Maia, Sanábria, Clóvis, Mantelli, Igor, Jorge, Lopes, Neri, Floriano, Marcão, Miltinho, Araújo, Kaplan, Ênio, Regis, Alcides, Ruffini, Moreno, Filipe, Fontoura... enfim, são tantos além dos citados, que formavam uma verdadeira seleção de craques do ensino.

           Existia uma espécie de aura em volta deles, tamanha afinidade mantinham com os alunos. Claro que uns mais e outros menos.                     Édison de Oliveira era o maior de todos. A sua espontaneidade, conhecimento, presença de espírito eram impecáveis e isso era a sua marca registrada. Eram tempos difíceis os anos 70, estávamos convivendo com uma ditadura militar, uma época de inflação alta, de pouca expressão cultural e também precária de tecnologia voltada para o ensino. Não se falava em multimídia ou DVD, nenhum professor tirava um pen drive do bolso, mas carregava debaixo do braço um desconfortante e pesado projetor de slides com carretel circular para o enriquecimento das aulas, os microfones eram grandes e com fio e os ventiladores de pé eram voltados para os alunos... Nem com toda essa lacuna tecnológica o brilhantismo de suas aulas era apagado, Édison estava à frente do seu tempo, segurava uma turma de 400 alunos no giz, no conhecimento, na competência e nas saudáveis brincadeiras que entravam no contexto na hora certa e de forma estratégica. Quem não se lembra da galinha de borracha, dos beijos que ele deixava na palma da mão dos alunos ou do "tesômetro" que ele usava para medir o entusiasmo das turmas? A tietagem matava aula numa turma para assistir ao "mestrezão" na outra. Dores de barriga e lágrimas de tanto rir eram conseqüências naturais do seu cômico e sábio jeito de se comunicar.               Édison, já naquela época, foi crítico e lúdico, inteligente e cômico, competente e responsável ao mesmo tempo.

          Vários desses craques já nos deixaram: Edmilson, Gatto, Flávio, Lopes, Mandelli e agora Édison de Oliveira se junta a eles.

             Privilegiados foram aqueles alunos que passaram por esses mestres. E muito de nós, professores, tivemos e ainda temos forte influência dessa turma, pois outrora fomos seus alunos.

         Mas fica a saudosa lembrança de quem foi inigualável, o mestre dos mestres, aquele que teve coragem de meter a cara nas brincadeiras em sala de aula, aquele que se expôs sem vergonha das conseqüências e aquele, que com toda a sua grandeza, foi humilde no relacionamento com os professores e com os alunos.

        A fôrma se perdeu, dificilmente surgirá outro Pelé, Falcão ou Édison de Oliveira.

Vocês entenderam? SIM, MESTREZÃO.