Casamento

Costuma-se ouvir, sempre, os mais velhos dizerem que, no tempo deles, o casamento era uma coisa que durava. Não era como é nos dias de hoje. A família era uma instituição sólida. Hoje, tudo é balada. Não dura. Esquecem, porém, que, há pouco tempo, mulheres não tinham voz ou vez. Eram criadas para serem donas de casa e para servirem e obedecerem aos maridos. Não podiam argumentar coisa alguma e, se o fizessem, apanhavam e, se enfrentassem, corriam riscos maiores. Mulheres que saíam de casa tornavam-se párias perante a sociedade. Muitas vezes reduzidas a mulheres da vida.

As mulheres não são mais propriedade dos maridos. Ainda estão longe da sonhada e batalhada igualdade, mas estão a milhas e milhas do que eram há poucas décadas. Elas têm opiniões, voz ativa no lar, muitas sustentam a casa financeiramente. Elas conquistaram o direito de pensar e de falar o que pensam, e fazem, por sinal, muito bom uso deste direito. O marido e a mulher têm que conciliar suas idéias e é isso que torna tudo tão difícil. São dois pensantes, duas vozes que procuram decidir o que é melhor para a família, mas que nem sempre concordam. Isso para não dizer, quase nunca.

O casamento é a evolução natural de qualquer relação que se consolide a contento. Por amor ou mesmo por interesse. É um contrato com direito a testemunha e cartório. Às vezes, pode não ser formal, mas, depois de um tempo, é como se fosse. Aliás, o tempo é o grande inimigo de qualquer casamento. O tempo acaba com a novidade, suaviza a paixão e deixa o amor menos eros e mais phileo. A paixão é, por definição, um sentimento intenso. Entretanto, salvo em casos de fanatismo ou de comportamento obsessivo, está ligado à novidade ou à renovação. Casamento, para durar, deve passar por renovações esporádicas, caso contrário, a mesmice e a rotina acabam com ele. Sei que isto não é novidade, mas creio que isso ocorre, muitas vezes, não porque o amor acabou, mas porque se deixa o tempo transformar tudo no mais do mesmo. O amor está presente, mas deixado de lado ou, mesmo, esquecido.

Não é fácil estar casado. São fatores demais. Sogros, sogras, cunhados, cunhadas, o resto das famílias, as dificuldades do dia a dia, o dinheiro que não dá, os filhos que precisam de atenção e de coisas que custam mais dinheiro, a rotina, o sexo que se torna mais esparso e burocrático por motivos mil, a falta de diálogo, as obrigações que tornam o contato menor e por aí vai. Parece que se anda numa corda bamba a vinte metros de altura e sem rede de segurança. A qualquer momento, pode-se despencar e tudo acabar. Percebe-se, então, como é frágil esta instituição.

As pessoas costumam dizer que o amor, se é forte e verdadeiro, supera qualquer obstáculo. É verdade, mas, muitas vezes, ele, o nobre sentimento, é relegado ao esquecimento ou à dúvida racional. Esta é a grande armadilha que o tempo arma. A mesmice, as numerosas dificuldades, as lembranças da juventude, a nostalgia da vida de solteiro, os sonhos não realizados, as brigas, tudo se mistura e faz pensar que o amor já não é o mesmo, que acabou ou morreu, mesmo que não seja verdade.

As brigas são um fator preponderante. Geralmente são por bobagens e em alguns poucos casos, por motivos sérios. De qualquer forma, acumulam-se durante o tempo e as novas tornam-se continuações das antigas. Numa briga nova, os assuntos das anteriores sempre retornam, por mais superados que estejam. Acusações são feitas, ofensas são trocadas e mágoas são plantadas. E elas crescem e florescem, cheias de espinhos. Nunca são esquecidas e o pior, nunca morrem.

É claro que depois de uma briga, o melhor é a reconciliação. Uma semana de namoro, de promessas, de sexo apaixonado e, depois, tudo volta ao que era. A única diferença é que a bagagem de mágoas aumentou. As pessoas perdoam, passam por cima, mas nunca esquecem de fato. Sempre trazem o assunto à baila de novo. A semana depois da reconciliação é maravilhosa, parece uma volta ao início do percurso, só que não é. Não é uma renovação, apenas um período de trégua.

Como se faz esta renovação então? É uma boa pergunta. Alguns casais tiram férias e viajam de tempos em tempos, como se fizessem luas-de-mel periódicas. Outros apelam para o liberalismo sexual que, segundo eles, fortifica o casamento pela cumplicidade e pela aventura, mas não é aconselhável para os ciumentos ou os possessivos, pois pode destruir de vez. Aliás, é difícil crer que não destrua de forma alguma. Há aqueles, ainda, que acreditam que uma boa briga seguida de férias conjugais resolve qualquer problema. Não há, entretanto, uma receita infalível. Cada caso é um caso. Cada casal é um casal. Acredito que a melhor maneira seja conversar e tentar descobrir. Uma conversa séria, mas descontraída. Sem as tensões de uma discussão violenta. Descobrir em que ponto as coisas degringolaram e como fazer para começar de novo sem ter que terminar, brigar, aventurar ou tirar férias. Descobrir como fazer o sexo ser sempre interessante, porque sexo não é tudo, mas é muito mais do que se costuma admitir. Embora existam e independam um do outro, amor e sexo são as principais parcelas na soma cujo resultado é um casamento feliz.

Fabrício Mohaupt
Enviado por Fabrício Mohaupt em 06/04/2008
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