Manifesto da Dor

Parece haver um momento antes de uma dor profunda, da carne ou da alma, que seja, um momento de paz, luz ou um alento qualquer que transcende a lucidez e transporta a razão pro instante seguinte, mesmo que tal dor pareça ser tão repentina e tão rápida como um raio, ainda assim num breve momento, mais repentino e mais rápido que um raio, conduz o espírito á paz e a perfeição que se destina o homem, no seu futuro; no seu sonho; no modelo e beleza que seus olhos vêem, que sua imaginação em momentos de puro êxtase e inspiração conseguem perceber. Logo em seguida vem a dor, transportando toda beleza, toda alegria, através de lembranças que insinuam pouca sorte de fato, e ao mesmo tempo um completo estado de pessimismo, capaz de destruir a algo que levou muito tempo para erguer, e num breve instante vira poeira. Construir novamente torna-se, ao mesmo tempo desafio e necessidade, ao mesmo tempo em que as forças parecem sacumbir aos obstáculos inerentes ao esforço que é preciso para levantar pelo menos os olhos, fechados de tanta tristeza e dor.

Parece haver uma distância grande entre viver, atravessando todas as fases do ciclo vital, e dentro deste participar de tantos eventos quanto se possa imaginar, crescer, construir, competir, vencer, perder, ser filho, estudar, formar, trabalhar, ser Pai, educar, ensinar, aprender, cultivar, ser neto ou ser avo, ter amigos, irmãos, parentes, conterrâneos, contemporâneos, e morrer. Mas na verdade o tempo é curto demais, mesmo que sejam 100 anos, pois no intervalo entre um ponto e outro, há mais mistérios, embutidos no contexto que respostas obvias esclarecendo o caminho.

Então seguir parece ser o lógico, determinante e conclusivo na evolução de qualquer pessoa, do vento ou do planeta, e os caminhos ainda obscuros, terão mais e mais obstáculos, serão tantas as provas, que a maioria repetirá e repetirá muitas e muitas vezes, porem o vento seguirá em frente, pois só conhece a frente, o planeta chegará ao fim.

Quando me lembro do meu início e de tudo que vivi ate agora, penso logo e certo que estou entre os repetentes, enfileirado entre aqueles que sacumbiram entre os desafios de uma trajetória, ou esqueceram seus tesouros postos de lado as margens da estrada, que seriam sua senha para a entrada gloriosa na galeria dos vencedores. Ou estaria entre aqueles que desistiram por não suportarem a clara e definitiva dor, sem a qual não há vitória, nem premio de consolação. Ai vem, “graças a Deus”, a esperança me dizer que, a pesar de tudo, talvez haja uma saída, uma alternativa salvadora em meio a desatinos e descaminhos, entre tropeços e erros, entre o medo e o fracasso, entre o cansaço e o laço que me prende a raízes cultivadas no solo da ignorância, impuro e infértil, fraco e pobre. Mesmo assim se agora, neste momento, bem no fundo da alma e com a sinceridade pura, erguer os olhos, olhar para frente e não mais repetir os erros ou desatinos e seguir com fé, se não tiver medo do fracasso, mais sim a coragem de enfrentar qualquer obstáculo e força para suportar a dor das batalhas, e tiver perseverança no trabalho virtuoso e alegria de viver, e se daqui pra frente guardar os tesouros que conquistar pelo caminho. Abrirei as portas para felicidade, e aí sim continuarei no meu destino que la atrás esqueci, continuarei sem medos ou dores, sem tempo para arrependimentos, sem fracassos, para o podium das almas claras:

ANGELO RONCALLY
Enviado por ANGELO RONCALLY em 16/08/2006
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