Que exploda essa porra toda que une sarneys e lulas num mesmo abraço

VEM DO VENTRE

Só acredito no que vem de baixo pra cima, de dentro pra fora, do ventre e aflora num instante: Milagre! Todo instante acontece e ninguém vê, a televisão até mostra, mas ninguém crê, não se percebe. A verdade, se esconde na sombra, mas tudo o que é mentiroso se sustenta com luzes. O submisso, uma hora se levanta, mas se por hora se cala é pra sobreviver, é pela esmola, talvez. Um dia se cansa de ser nada, etc, entretanto, fila de espera, saúde rara, leite ralo, rua de barro, condução lotada, discurso furado, promessas não cumpridas, políticos falidos.

NADA É FIXO

Se o universo se expande, nada está fixo, nada fica um segundo no mesmo lugar. Porque se estratificam as castas e natas? E se submetem gerações inteiras aos mandos intermináveis? Nada é eterno, não há ternura nas estrelas, quando chega a hora explode, fragmenta-se. Pó. Não há compaixão na explosão. Não há silêncio nos céus.

CULTURA NA SOMBRA

Cultiva-se ostras finas para os mais ricos, colhe-se pérolas aqui e a ali e se junta tudo no cofre central, enquanto regamos nossa revolta, tomamos banho de sol pelas frestas e fazemos outra cultura na sombra, no pique da própria dor. Produzimos um canto próprio, tido como nada, forte, submerso - que aos poucos isto aflore, do ventre pra fora e que exploda essa porra toda, essa trama sinistra que une num só barco sarneys, lulas e arcaísmos todos. Tolos somos nós.