Ensinem-nos...

Hoje vocês estão se formando. A alegria é geral. E eu não vim aqui atrapalhar a festa falando em aula. Tivemos tantas, não é mesmo?

Eu quero agradecer e pedir. O agradecimento é pela oportunidade que me deram de tê-los como companheiros ao longo desse tempo.

O pedido... bem... para falar do pedido, tenho de lembrar aquilo que o Leo Huberman usa para finalizar seu livro História da Riqueza do Homem, que li há muito tempo. Creio que vocês também o leram.

Ele conta como os indianos caçam macacos, se lembram? Eles pegam um coco. Fazem um buraquinho de pequeno diâmetro no coco –só o suficiente para passar a mão magrinha do primata. Dentro do coco eles jogam torrões duros de açúcar. Os macacos, guiados pelo faro apurado, descobrem os torrões e metem a mão. E eles são tão gulosos pelo açúcar, que jamais soltam os torrões. Ficam presos ali. Nisso, os indianos chegam, pegam os animais e vão fazer uso deles da melhor maneira possível -já mortos, evidentemente...

Curioso, não? O macaco prefere morrer a abrir mão...

Andamos tão individualistas nessa nossa sociedade de mercado! Às vezes, somos tão apegados ao nosso torrão! Uns poucos chegam a possuir o que nunca vão consumir. Multidões não têm sequer o que comer. Essa realidade me preocupa, caros formandos.

Dito isso, aqui vai o meu pedido: agora que se formam e vão lidar com a prática social que é o ato de ensinar, por favor, ensinem-nos a abrir a mão -não podemos continuar nos igualando a primatas...

Sim, contribuir para que desaprendamos o egoísmo?... Isso agora é com vocês! Parabéns e coragem! Muita coragem!

Abraços, sempre!