Homilia na Missa do Crisma 2012

Amados sacerdotes, religiosas, seminaristas, missionários leigos e Povo de Deus,

01.Nossa Igreja Diocesana se alegra neste dia pela celebração da Missa da Unidade, ocasião que o Bispo Diocesano preside a Divina Liturgia Eucarística concelebrada pelos membro do Clero Diocesano e, nesta oportunidade, os padres renovam as promessas sacerdotais. Na pessoa do sacerdote os fiéis encontram a pessoa de Cristo. O padre é o dispensador dos mistérios que colaboram enormemente para a santificação das almas. A quinta feira santa é, particularmente, um dia muito especial, pois a Igreja recorda solicitamente a instituição do Sacerdócio Católico e da Eucaristia da parte de Nosso Senhor e abençoa o óleo dos catecúmenos e enfermos e consagra o óleo do crisma.

02.Hoje é o dia do nosso sacerdócio. Desta feita, dirijo uma palavra especial a vós, caros irmãos no ministério sacerdotal. A Quinta-feira Santa é de modo particular o nosso dia. Na hora da Última Ceia, o Senhor instituiu o sacerdócio neotestamentário. «Consagra-os na verdade» (Jo 17, 17): pediu Ele ao Pai para os Apóstolos e para os sacerdotes de todos os tempos. Com imensa gratidão pela nossa vocação e com grande humildade por todas as nossas insuficiências, renovemos nesta Divina Liturgia o nosso «sim» ao chamamento do Senhor: Sim, quero unir-me intimamente ao Senhor Jesus, renunciando a mim mesmo, impelido pelo amor de Cristo.

03.Jesus, Sacerdote Eterno do Pai foi ungido pelo Espírito Santo. Toda sua ação é dirigida ao Pai no Espírito. O Profeta Isaias ao profetizar sobre o Messias o apresenta como aquele que recebe a força do Espírito que vem sobre ele para impulsioná-lo no caminho da missão. Ao iniciar sua missão pública na sinagoga de Nazaré, onde se tinha criado, o Senhor Jesus anuncia o início de seu ministério itinerante sob a ação do Espírito que o envia para dilatar os valores do Reino e para reerguer os sofredores e angustiados desta vida.

04.A missão do sacerdote tem uma correlação intima e teológica com a missão de Cristo. A Igreja sempre entendeu nosso ministério como uma “ação vicária de Cristo”, pois somos chamados a agir no lugar d’Ele e, assim, a Igreja entende o padre como o alter Christus, o outro Cristo. O Cura d’Ars nos ensinou que “é o sacerdote que continua a obra de redenção na terra”.

05.Talvez seja difícil para muitos em nosso tempo compreender a missão do sacerdócio ministerial nesta ótica de identificação ontológica com o Mistério de Cristo. Mas só podemos compreendê-lo se olharmos para a Igreja com o olhar da fé. Sem o olhar da fé a Igreja não passa de uma obra sócio religiosa, uma empresa do sagrado ou um grupo de pessoas alienadas, fanáticas e fadas ao ostracismo e os sacerdotes homens sem importância. Mas pela Fé nossa inteligência entende que a Igreja é a continuadora da missão de Cristo na história da humanidade. Ela é o império do amor, a Mater et Magistra, Mãe e Mestra de todos os tempos. A partir desse olhar é possível compreender também o sacerdócio ministerial e compreender o seu significado e relevância. A pessoa do padre evoca o Mistério de Cristo e o bom sacerdote nunca foi tão requisitado como em nossos tempos.

05. Vendo os documentos emanados do Magistério da Igreja, as orientações pastorais e diretrizes para nossos tempos, perguntamos qual a finalidade da missão do padre nos tempos atuais, na atual conjuntura da Igreja? Sua missão é a missão de Cristo que é a missão da Igreja: evangelizar. Nós, sacerdotes somos os primeiros evangelizadores. Alerta-nos o Senhor: «Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que vos tenho ordenado» (Mt. 28, 19-20).Com estas palavras, Jesus Cristo, antes de subir aos céus e se sentar à direita de Deus Pai (cf.Ef. 1, 20), enviou os seus discípulos para anunciar a Boa Nova ao mundo. Eles representavam um pequeno grupo de testemunhas de Jesus de Nazaré, testemunhas da sua vida terrena, do seu ensinamento, da sua morte e, especialmente, da sua ressurreição (cf. Act.1, 22). A missão era enorme, superior às suas capacidades. O Senhor Jesus, para os incentivar, promete-lhes a vinda do Paráclito, que o Pai enviará em seu nome (cf. Jo. 14, 26) e os «guiará em toda a verdade» (Jo. 16, 13). Assegura-lhes, além disso, a sua perene presença: «e eis que Eu estou sempre convosco, até ao fim do mundo» (Mt. 28, 20).

06.Depois do Pentecostes, quando o fogo do amor de Deus pousou sobre os apóstolos (cf. Act. 2, 3), unidos em oração «juntamente com algumas mulheres e Maria, mãe de Jesus» (Act. 1, 14),o mandamento do Senhor Jesus começou a realizar-se. O Espírito Santo, que Jesus Cristo concede em abundância (cf. Jo. 3, 34), está na origem da Igreja, que, por sua natureza, é missionária. De fato, logo que receberam a unção do Espírito, o apóstolo São Pedro «levantou-se e falou em voz alta» (Act. 2, 14) anunciando a salvação no nome de Jesus, «que Deus constituiu Senhor e Cristo» (Act. 2, 36). Transformados pelo dom do Espírito, os discípulos espalharam-se por todo o mundo conhecido e difundiram o «evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus» (Mc. 1, 1). O seu anúncio chegou às regiões do Mediterrâneo, da Europa, da África e da Ásia. Guiados pelo Espírito, dom do Pai e do Filho, os seus sucessores continuaram essa missão, que permanece atual até o fim dos tempos. Enquanto existe, a Igreja deve anunciar o Evangelho da vinda do Reino de Deus, o ensinamento do seu Mestre e Senhor e, sobretudo, a pessoa de Jesus Cristo.

07.A evangelização será o tema da XIII Assembléia Geral do Sínodos dos Bispos em Roma no próximo mês de outubro; não haveria tema mais oportuno e urgente do que este. A Igreja existe para evangelizar; nós fomos feitos sacerdotes para assumir não apenas em teoria e palavras a evangelização, mas na prática, no corpo a corpo da pastoral. As Diretrizes Pastorais da nossa XIII Assembléia Diocesana nos direciona no caminho da evangelização e nos motiva a ela com todo ardor possível. O tempo urge e não podemos deixar de evangelizar com entusiasmo e dinamismo. É preciso romper as barreiras e ir ao encontro do povo, das famílias, dos afastados, dos esquecidos.

08.A Diocese é grata pelo vosso trabalho, amados sacerdotes, realizado com amor e determinação. Já é possível vislumbrar resultados positivos de crescimento e amadurecimento pastoral neste tempo do pós Concílio, mas não podemos nos dar por contentes. Há muito o que fazer para que Jesus seja amado, conhecido e adorado. A Diocese precisa dar um salto de qualidade na excelência pastoral e sacerdotal. Nota-se mais um crescimento localizado, enquanto o crescimento de conjunto ainda é um desafio. Este crescimento depende da superação da “pastoral de manutenção”. Ainda somos tomados pelo amadorismo e por uma visão ainda pequena, tímida e amuada na efetivação de eventos de evangelização e formação que oxigena a pastoralidade. Nós sacerdotes somos os homens do sagrado e da motivação pastoral; é isso que nos impulsiona, é isso que dá visão à Igreja. Nossa motivação não vem da aplicação de técnicas meramente humanas, mas da oração e da vivência dos sacramentos. Enfim, vem de Cristo, nossa motivação e força motriz.

09.A Diocese conta com a generosidade de todos os sacerdotes e lideranças leigas para avançarmos mais a ação evangelizadora e pastoral. Temos que alcançar as pessoas batizadas e indiferentes à fé; temos que nos preparar para acolher os católicos que migraram para as seitas e que de lá saíram por decepção e estão sem coragem de voltar ao aconchego de nossas comunidades católicas. A missão é urgentíssima e de todos e se resume cm cuidar do povo e ir ao encontro da ovelha tresmalhada, sofrida e afastada.

10.Duas grandes preocupações nos assolam: a falta de padres e o perigo de uma crise econômica na Diocese. Nossa Igreja Diocesana precisa da vossa ajuda, amados sacerdotes, e da comunidade diocesana como um todo para atacarmos de frente essas duas preocupações que nos assustam. Temos hoje duas paróquias sem padres e cinco padres que atuam na Diocese não pertencem ao nosso clero e estão nos ajudando emergencialmente. Nossa insegurança é grande ao pensar que estes sacerdotes possam ter que voltar às suas dioceses e congregações. E se isso acontecer? Ficaremos de pés e mãos atados. Atualmente estamos com seis seminaristas: dois na teologia, dois na filosofia, um no propedêutico e um no pré seminário. O grupo de seminaristas é pequeno, mas nos alegra saber das qualidades humanas e espirituais de cada um. É preciso trabalhar as vocações. Contudo, não vamos apressadamente acolher pessoas com dificuldades ou limitadas humanamente. É preciso rezar ao Senhor da messe que nos envie operários com qualidades suficientes para abraçar o sacerdócio com coerência.

11.Economicamente a Diocese precisa de um choque de gestão. Nossas despesas aumentaram e estamos correndo o risco de beirarmos a uma séria crise econômica em pouco tempo. No ano que vem teremos três seminaristas a mais no seminário e as despesas inesperadas sempre acontecem. Por isso a Diocese precisa da ajuda do clero e da comunidade diocesana. Neste ano vamos criar a OVS (Obra das Vocações Sacerdotais) com a finalidade de rezar pelas vocações e manter financeiramente as despesas com seminário. Conto com a boa vontade de todos os sacerdotes para nos ajudar a implantar este sistema que nos garantirá a solução da incerteza que nos preocupa. Na Diocese tem muitos católicos que colaboram com muitas instituições de evangelização de diversos lugares do País. Elas são importantes, mas precisamos cumprir do dever de casa. Chegou a hora das pessoas ajudarem a Diocese, a sua casa, pois somos pobres e precisamos do empenho de todos. O que sai de doação dos católicos da Diocese para estas instituições contabiliza muitas vezes mais o que a Diocese arrecada por mês. Vamos combater o temor com o zelo ardoroso da oração e do trabalho e com nosso testemunho sacerdotal.

12.Que Deus vos abençoe rica e abundantemente, vossos familiares e comunidades e que tenham saúde e paz para empreenderem passos significativos no aprimoramento na excelência do vosso ministério e na acolhida ao povo, na melhoria dos serviços litúrgicos e pastorais e no crescimento da fraternidade presbiteral indispensável para o crescimento da Igreja Diocesana.

13.Confio a Nossa Senhora da Glória, Nossa Padroeira, o vosso ministério, amados presbíteros, sacerdotes do Deus altíssimo. Que os santos óleos que hoje vamos abençoar, consagrar e vos entregar represente aquele desejo de santificação que cada padre deve ostentar dentro de seu coração e em favor do seu povo. Amém!

1. Bento XVI, homilia na 5a feita santa de 2011.

2.Leniamenta da XIII Assembléia Geral do Sínodo dos Bispos, no. 1

3.

Adair José Guimarães
Enviado por Adair José Guimarães em 10/04/2012
Código do texto: T3605614