O Que Você Faria Por Um Nude?

O que você faria por um nude?

Quem é que nunca enviou ou, ao menos, recebeu nudes? Quase o total de usuários do universo digital já, mesmo que sem seu consentimento. E cá entre nós: a maioria gosta. É normal, natural, automático, instintivo, seja lá o que for, mas é legal. É excitante, tanto no sentido sexual quanto no sentido de ter conquistado algo; algo que vai além de uma simples foto, trata-se da confiança de outra pessoa a ponto de compartilhar uma intimidade.

Eu sempre achei que esse tipo de coisa ocorresse naturalmente; quando duas pessoas se interessam uma pela outra, por afinidade, como num relacionamento “presencial”, mas que por conta da distância naquele exato momento de excitação, a solução viável fosse um nude. Sempre pensei assim, porém, com o tempo e a quantidade de “vazamentos” de fotos íntimas, comecei pensar que não poderia ser simplesmente o acaso, a naturalidade, mas sim algo a mais deveria existir para inundar a internet dessas imagens amadoras de garotas nuas em seus quartos, banheiros e sabe Deus onde mais. É um número desproporcional a qualquer casualidade e não é um número qualquer. É um número que faz com que meninas chorem, carreiras sejam destruídas, relacionamentos acabados, famílias desmoronadas e, por fim, vidas findadas. Sim! É tudo isso que um simples nude compartilhado pode trazer!

A pergunta volta à tona: O que você faria por um nude?

Promessa? Pagaria dinheiro? Gastaria bastante tempo? Passar-se-ia por outra pessoa? Em busca dessas respostas comecei uma breve pesquisa e, com a ajuda de contatos, consegui entrar num grupo do Telegram (aplicativo similar ao WhatsApp) no qual eram compartilhadas fotos de conteúdo “+ 18 amador”. O interessante desse grupo específico é que, ao contrário dos outros, fazem parte dele pessoas responsáveis por conseguir novas fotos e vídeos amadores. Logo, conversam muito sobre a “evolução” das próximas vítimas, como está o papo com determinada garota, qual já está conseguindo a confiança, qual está mais difícil de conseguir. Nesse grupo, descobri que existem, além da pornografia normal, as chamadas “CP” e “TP”. Demorei um tempo para descobrir o que era e quando descobri fiquei ainda mais assustado. CP é a abreviação de Chindren Porn (pornografia de crianças) e TP vem de Teen Porn (pornografia adolescente).

Quando um membro novato perguntou se alguém ali possuía “CP”, alguém mais experiente respondeu que naquele grupo era proibido o compartilhamento desse tipo de pornografia (ufa! Um ar de “humanidade”, ainda que em um grupo desses). Então o novato perguntou a partir de qual idade deixava de ser CP e se tornaria TP, e a resposta foi “mais ou menos 14”. Imagino eu que seja por conta da legislação que estabelece esse limite de idade ao tratar de estupro de vulnerável. No entanto, entendam bem: Existem grupos para compartilhamento de fotos e vídeos de CRIANÇAS com menos de 14 anos! Apesar disso, pelo que parece, o interesse da grande maioria é nas meninas entre 15 e 18 anos, e é justamente essa a faixa etária de maior ataque e talvez a mais fácil de atingir o objetivo, pois nessa idade as adolescentes tendem a querer se destacar e parecerem adultas, maduras, ficando, assim, vulneráveis a jogos psicológicos.

No que tange a conquista do objetivo de se conseguir um nude é preocupante a metodologia utilizada. Existem pessoas que se passam por outras e talvez aí esteja a chave para tantos nudes de adolescentes na internet. Homens, de várias idades, estão se passando por adolescentes bonitas e criando fakes nas redes sociais como Facebook, Instagram e WhatsApp, utilizando fotos dessas garotas, as chamadas “10/10” na gíria moderna. Com um arsenal de fotos de uma determinada garota, muitas vezes tiradas do próprio perfil real dela, e algumas vezes com um ou outro nude real dessas garotas, eles criam um perfil com grande verossimilhança e conseguem um número absurdo de amigos, dando vida aos fakes. Muitas vezes, esses homens se organizam em grupos, utilizando fotos de amigas reunidas, marcando uns aos outros nas publicações, tornando ainda mais reais aqueles perfis. Hoje é moda ter pessoas bonitas como amigos nas redes sociais, dessa forma, as adolescentes acabam por aceitar as solicitações de amizade daquelas “meninas”. O próximo passo é iniciar a conversa e elogiar a beleza das adolescentes, seduzi-las, afinal, quando o elogio vem de outra mulher, que por sinal é linda, encanta ainda mais quem o recebe, e é através desse encanto que o objetivo é alcançado. O passo seguinte para deixar as meninas lisonjeadas é a auto-crítica. São imputados defeitos inexistentes aos corpos das fotos utilizadas nos fakes e, em seguida, são “oferecidos” nudes ou fotos sensuais para pedir opinião e, principalmente, ganhar de uma vez por todas a confiança das garotas. Feito isso, e com uma conversa atraente, o último passo é dado. Chegou a hora de pedir os nudes. O sucesso é facilmente alcançado, afinal, é só uma amiga linda, que confiou enviar fotos nuas e a retribuição é quase uma obrigação na cabeça dessas adolescentes.

Com tudo isso é possível perceber que conseguir nudes está se tornando algo “profissional”, com passos e estratégias a serem seguidos, e qualquer um consegue encontrar o manual de como fazê-los. A humanidade se supera a cada dia na tarefa de ser desumana, com o perdão do trocadilho. Seria um pouco menos podre se ao menos essas imagens fossem para sua própria satisfação, porém, na verdade, a grande maioria é para o compartilhamento, criação de novos fakes, tornando isso uma engrenagem sem fim que cada dia facilita ainda mais a tarefa de conseguir novos nudes e, pior ainda, venda para sites especializados em pornografia amadora.

Peço a todos que compartilhem e circulem esse texto ao máximo de pessoas para que sirva de alerta a todas as crianças e adolescentes que têm acesso à internet e estão expostas a esse cruel mercado de “nudes”, assim como seus pais e responsáveis. A auto-proteção é a maneira mais eficiente para acabarmos com isso!

Walter Vieira da Rocha

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