DISCURSO DE ESPERANÇA: HOMOFOBIA

Harvey Milk, no Brasil eu discursaria assim:

"Em algum lugar do Brasil, há uma jovem pessoa homossexual que, de repente, percebeu que ele ou ela não consegue corresponder e ser, como a maioria é. Essas jovens pessoas sabem que se seus pais souberem, lhe darão decepção, tristeza e maus comentários, que podem, inclusive, serem colocados para fora de casa, apanharem ou serem castigados. Sabem que seus colegas irão lhe humilhar, ridicularizar, menosprezar e que muitas pessoas vão se distanciar.

Enquanto tudo isso percorre pelos pensamentos de uma jovem pessoa, outras pessoas como tantos Malafaias, Lobos, Felicianos e Bolsonaros, estão fazendo sua parte nas ruas, igrejas, livros, palanques, púlpitos, tribunas e canais de televisão, lutando contra a libertação desses conflitos por acreditarem que vão contra a boa moral, os bons costumes, às famílias, que se trata de um erro, um pecado, um problema, uma doença. E aquela jovem pessoa têm poucas possibilidades: ficar no seu armário [não se aceitar como tal, sofrer e esconder quem é] ou desistir e se suicidar.

Mas um dia, aquela jovem pessoa pode acordar e ver, em destaque, uma outra pessoa homossexual que é bem sucedida e feliz. Aí surgem duas novas opções: a opção de lutar contra a felicidade dos homossexuais por não conseguir também ser feliz com a sua homossexualidade, ou lutar pela felicidade de todos. Espero que possamos sempre escolher a de lutar pela felicidade de todos.

Eu escolhi lutar e, por isso, frequentemente, recebo mensagens de pessoas jovens e adultas que ainda escondidos em seus armários empoeirados, sem muitas esperanças, sem forças para lutarem e serem quem são, me dizem: "Obrigado”, “Parabéns”, “Queria eu ter nascido em tua geração” ou, até mesmo, “Espero um dia conseguir”. E isso não é lindo de se ouvir, é apenas triste.

Nós, enquanto pessoas que acreditamos, queremos e buscamos uma sociedade mais harmoniosa, feliz e amável, precisamos ter a sensatez de defender a possibilidade de todas as pessoas serem felizes como são. E mesmo que a dor do outro não seja a sua, se solidarize, pois, milhares e milhares de jovens como esta saberão que existe esperança de um mundo melhor; que há esperança por um amanhã melhor.

Sem esperança, não só gays, mas qualquer outra pessoa que vive privada de expressar o que é e sente, ou que não tenha dignidade para viver, sem ser ridicularizada por assim ser, perderá. Sem esperanças, o Brasil perderá.

Eu sei que nós não podemos viver de esperança sozinhos, mas sem ela, a vida não vale a pena. E nós precisamos dar esperanças a essas pessoas tão jovens”.

Essa semana, em especial o dia 17 de Maio, marcamos a luta contra a homofobia. Homofobia é uma palavra guarda-chuva para todas as formas de preconceitos e fobias dadas àqueles que são sim diferentes de uma maioria, mas que não deveriam ser desiguais dela.

Talvez seja uma boa data para você repensar e refletir sobre suas próprias atitudes, seus pensamentos, crenças, valores, omissões e silêncios diante casos de dor, ou até mesmo de amigos, filhos, primos, irmãos, sobrinhos, netos e vizinhos que possam por esse conflito vivenciar e em silêncio estar.

Se para você possa parecer difícil em alguma pessoa chegar, abraçar e dizer que a amará independentemente de quem ela vier a amar, imagine para quem ama e seu afeto não possa demonstrar? Se para você é difícil aceitar tais diferenças como algo normal, muito mais difícil é para quem vivencia em sua existência o sentido de ser anormal.

Não adianta fugir, fingir não perceber, ignorar uma verdade já dita, não querer acreditar ou se negar a aceitar. Essas pessoas existem, sempre existiram e continuarão a existir, e pedem, simplesmente, o teu respeito para poderem ser, existir, amar e não mais se auto recriminar, aos banheiros chorar e aos pensamentos querer se matar.

O tempo que perde com o teu silêncio, pode ser o tempo que essas jovens pessoas ganham em lamento, dor e sofrimento. Seja uma pessoa empática, sensível e honesta. Mesmo que acredite que você não seja uma pessoa que não a aceitaria, se manifeste. Todos nós somos, em potencialidade, grandes reprovadores de suas expressividades, pelo simples fato de em silêncio ficar diante dos discursos contrários que por aí vivem a circular, seja no meio político, religioso, familiar, escolar ou social.

Ou até mesmo que não tenha ninguém ao seu convívio, a essas diversidades se enquadrar, lembre-se sempre de que um silêncio é o consentimento das vozes que ecoam entre os que preferem não amar, ou nunca foram amados para que o amor possa espalhar.

Esse dia talvez seja o melhor dia para se assumir como quem espera de braços aberto as pessoas que se escondem entre seus armários. Não devemos nos calar. O teu silêncio pode ser o aval de várias sentenças de condenação ao sofrimento, angustia, engano e mortes.

Não espere que o diferente busque sua aceitabilidade. Você também pode e deve romper os silêncios e fazer sua parte. Um sorriso no rosto nem sempre é sinônimo de felicidade.

Esses dias, talvez seja um bom dia para você fazer sua parte.

Ruy Tadeu
Enviado por Ruy Tadeu em 16/05/2018
Reeditado em 16/05/2018
Código do texto: T6338224
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