Prioridades

Eu convivo com uma pessoa que ainda não começou a viver. Essa
pessoa existe para o trabalho. Nunca conheci uma pessoa tão
trabalhadora na vida. Eu acredito que o trabalho é fundamental na vida
de todo ser humano, pois é dele que você apresenta a sua dignidade e
garante o abastecimento da sua vida. No entanto, eu tenho observado
muitos trabalhando para conquistarem bens materiais como se a
vivência fosse definida pelo capitalismo.
Logicamente, eu não interfiro na escolha ou na perspectiva de vida de
ninguém. Porém, eu tenho analisado que a vida humana de muitos
indivíduos está pautada no ter. A busca pelo poder e pela aquisição de
propriedades está pautada na insatisfação. Sim, isso mesmo, o homem
moderno tem alimentado um descontentamento ininterrupto. É o que o
consumismo prega: quanto mais tem, mais deve ter.
Eu gosto de fundamentar meus argumentos com exemplos claros e
práticos: quando se adquire um celular, o ego é instantaneamente
nutrido pelo sentimento de posse. A reação mais imediata é publicar a
compra da ferramenta de ostentação. Entretanto, o que eu mais tenho
testemunhado é a limitação do contato, da troca de olhar e da
transferência de toque. A tecnologia otimizou a vida contemporânea,
porém, essa revolução criou uma distância que restringiu e
comprometeu as relações humanas.
Eu, por exemplo, detesto quando estou conversando com uma pessoa
e ela está na minha frente vidrada e enfeitiçada pelo aparelho. Eu não
sei vocês, mas eu sinto-me desprezado e rejeitado. Obviamente, esse
item que se tornou uma indispensabilidade da atualidade representa
um paradoxo. Ao mesmo tempo em que a conexão com uma pessoa do
outro hemisfério é estabelecida, a proximidade com alguém que está
ao seu lado é completamente extinta.
Por conseguinte, eu acho que a raça humana ainda não aprendeu qual
é o real sentido da vida. A humanidade tem priorizado a conquista de
riquezas e patrimônios mais do que a apreciação pela existência. Um
abraço, um beijo, um gesto de gentileza, uma palavra de conforto, a
afetividade e o amor. Portanto, a essência vital é baseada nas
lembranças, nas memórias, nas experiências e no registro que você
lembrar-se-á no futuro, nas coisas que transmitem um propósito para a
felicidade, pois a felicidade está nas coisas mais simples e não nas
coisas que ficam e que não levamos.
Lucas Nicácio Gomes
Enviado por Lucas Nicácio Gomes em 22/10/2018
Reeditado em 15/03/2019
Código do texto: T6483111
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