ESCOLAS OU DEPÓSITOS DE ALUNOS?
 
     O raciocínio é a capacidade de partir de ideias conhecidas e diferentes, e chegar a uma terceira, desconhecida. Grosso modo, esse é o exercício da linguagem matemática, desde sua fase mais incipiente até exercícios de cognição e abstração mais sofisticados, que vão contribuir de forma significativa no desenvolvimento da capacidade intelectual das crianças, durante toda a vida, tornando-as aptas para a resolução de problemas e compreensão do mundo real. O domínio e o conhecimento da linguagem matemática é condição indispensável para entender e interagir com o mundo a nossa volta. O acesso à essa valiosa ferramenta está restrito a uma parcela ínfima da população, que pode pagar escolas com padrão de excelência em educação. Em nosso país, não existe uma tradição de leitura, porquanto a literatura e a língua pátria não são devidamente reverenciadas, o que dificulta o acesso à cultura ancestral. Quanto ao exercício da linguagem matemática, nosso desempenho é medíocre, haja vista os pífios resultados apresentados nos certames internacionais.
     Na realidade, o que se verifica é que o sucateamento da educação garante a manutenção da ignorância! O ignorante é condenado a uma vida de alienação da realidade, pois não tem repertório nem subsídios para questionar eventuais abusos que porventura venha a sofrer! Quem não sabe pensar com lucidez e coerência nunca vai exercer plenamente a sua cidadania!
    No ano de 2015, um relatório publicado pelo Banco Mundial, mostrou que o desempenho do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Programme for International Student Assessment - Pisa, na sigla em inglês) foi pífio, e só confirma o descaso de nossas autoridades com a educação, pois mostra uma queda de pontuação nas três áreas avaliadas: ciências, leitura e matemática. A queda de pontuação também refletiu uma queda do Brasil no ranking mundial: o país ficou na 63ª posição em ciências, na 59ª em leitura e na 66ª colocação em matemática.
     Nesse sentido, não há como negar que a educação no Brasil vai mal! A maioria do jovens com quem converso não conhecem Guimarães Rosa, Manuel Bandeira nem Graciliano Ramos! Machado de Assis e José de Alencar, menos ainda! Parcela considerável da geração atual é de analfabetos funcionais. Segundo pesquisa efetuado pelo Instituto Paulo Montenegro, no ano de 2015, vinte e sete por cento (27%) de nossa população é composta de analfabetos funcionais, ou seja, pouco mais de um quarto (1/4) de nossa população consegue ler apenas textos simples e efetua somente operações matemáticas elementares, não tem capacidade de cognição para compreensão de textos mais complexos e operar com números e expressões matemáticas que exijam um nível maior de abstração.
      Dito isso, importante frisar que, em nosso país, a apatia em relação à leitura e a preguiça de ler estão contribuindo para a alienação de nossos jovens, pois, sem o aporte da literatura, as novas gerações não terão acesso a sua cultura ancestral, logo, não terão um ponto de referência no passado, tampouco conseguirão identificar o contexto sócio-político-econômico no qual estão inseridos atualmente! A partir dessas premissas, pode-se concluir que quem não sabe de onde veio (PRETEXTO) e não sabe onde está (CONTEXTO), jamais terá condições de saber aonde vai, ou seja, não terá condições de interpretar um TEXTO adequadamente e tirar conclusões lúcidas e coerentes!
     Nessa esteira, pode-se afirmar que, além da influência dos pais e da família, a literatura e a matemática são a base de formação do caráter dos jovens. Sem o exercício metódico e reiterado da linguagem matemática, e sem o acesso à literatura, as futuras gerações não serão capazes de desenvolver a contento sua capacidade de raciocínio e abstração, tampouco formarão uma escala de valores éticos e morais, logo serão presa fácil para o oportunismo dos maus políticos. A maioria da população comportar-se-á como uma manada! Sim, isso mesmo, nossos jovens não terão opinião própria, não haverá grandes questionamentos, tampouco contestações ou insurgências, serão como gado confinado, cujo destino se sujeitará ao bel-prazer e caprichos de seus donos!
     Ante o exposto, pode-se concluir que se não houver um propósito nobre e legítimo, bem como um comprometimento entre os pais e os gestores das instituições de ensino, a escola tornar-se-á apenas um depósito de alunos!
Osmar Ruiz Júnior
Enviado por Osmar Ruiz Júnior em 26/12/2018
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