A Revisão

Estava eu, há alguns dias, passando nas imediações da antiga rodoviária de Campinas e ali há uma pichação feita supostamente por partidário de um partido político de esquerda, condenando a revisão de fatos recentes da nossa história.

Desde então fico a me perguntar qual o objetivo dessa frase, além, é claro de emporcalhar a cidade. Pois até agora esse é o único fato claro e incontroverso, a pichação praticada por aqueles partidários somente emporcalharam, sujaram, denegriram aquela cidade, nada mais do que isso.

Com relação à revisão, já tenho que discordar do porcalhão. Ora, há várias formas de se fazer a leitura de fatos históricos. A primeira delas, e que deveria ser a ideal, é analisar os fatos ocorridos dentro da época quando ocorreram. Assim, não caberia às gerações subsequentes julgar os fatos pretéritos, apenas analisá-los e extrair o resultado deles. Em outras palavras, determinado fato foi consequência do que e foi causa do que? É isso que se deve ou deveria fazer. Como exemplo, podemos citar a leitura de livros de fonte primária, sem a influência de interpretações. Aliás, cabe um parêntese, os manuscritos do mar Morto tornam-se interessante fonte de consulta sobre a história do Oriente Médio na época de Jesus, já que ficaram guardados por dois anos.

Já há outra leitura feita com base na interpretação política que se quer dar a determinado fato. Ora, o analista observa os fatos e analisa-os com base nas ideias que defende. Normalmente, uma análise assim tende a ser parcial (quase sempre) e voltada a um interesse atual. Falando de outra forma, não é, em última instância, uma análise fria, que deveria ser feita por um estudioso de história, mas é uma ferramenta voltada à defesa de uma causa, uma ideologia. Como exemplo podemos citar as relações de trabalho na Idade Média, que eram completamente diferentes das de hoje, mas que é, por muitos, julgada sob a ótica atual, Grave erro.

Pois bem, após vermos duas formas de se fazer a análise de um fato histórico, voltamos à questão da revisão que é condenada por aqueles que sujaram a cidade de Campinas. Por que não se pode fazer a análise dos fatos à luz de novos documentos ou sem que se coloque intenções políticas em sua análise? Acho difícil encontrar uma resposta que seja isenta de paixões políticas.

O fato é que é preciso olhar para a nossa história e analisar o que aconteceu, dentro do seu contexto e sem embutir ideologias. Enquanto a leitura da história sofrer influências demagógicas, sem que saibamos olhar os fatos como um autêntico historiador faria, nosso desenvolvimento como povo sofrerá retrocesso. Precisamos saber olhar para nossa história e encontrar nela os elementos que nos tornam brasileiros, um povo multirracial, capaz de encontrar um denominador comum que torna-nos únicos. Colocar a ideologia como único instrumento de análise histórica deturpa aquilo que ela deveria estudar, a história.