DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA CEARENSE DE LINGUA PORTUGUESA

ACADEMIA CEARENSE DA LÍNGUA PORTUGUESA – ACLP

REGINA LUCIA BARROS LEAL DA SILVEIRA –

DISCURSO DE POSSE

FORTALEZA, 30 DE JUNHO DE 2011

Nessa ocasião especial não poderia deixar de agradecer ao acadêmico Batista de Lima, meu amigo de muitos anos que sempre me incentivou. Com sua calma e sabedoria estimulava para que eu escrevesse em jornais, boletins. Prefaciou alguns dos meus livros e hoje me apresenta brilhantemente à Academia. Sua competência e sua atitude sempre foram importantes no meu percurso literário.

Sou grata a acadêmica Revia Herculano por sua amizade e por ser a grande incentivadora de minha participação na Academia. Acreditou nas minhas possibilidades e estimulou com a ternura e a sabedoria feminina que a faz presente, de forma distinta, no meu universo afetivo.

Aos meus saudosos pais que gostaria que aqui estivessem para compartilhar da alegria desse momento.

Nesse dia especial, pleno em sua singular circunstância, digo obrigada ao meu fiel companheiro Arley, por ser meu grande estimulador, minha alma gêmea, meu parceiro de tantos anos, que nessa oportunidade tenho o prazer de dizer muito obrigado meu querido. Você é meu amor, minha inspiração romântica e meu provedor de sonhos.

Aos meus filhos e netos, fonte de meu entusiasmo criador, em tantos momentos, minha alma transcende o espaço desta sala, para reverenciá-los e expressar o meu amor.

Aos meus irmãos, companheiros de vida e parceiros de amores e dissabores, meu obrigada por compartilharem esse momento. Tomo a liberdade de dizer ao Cesar, meu querido e especial amigo, membro da Academia Cearense de Letra, que você foi e é um exemplo para minha vida.

As minhas cunhadas e cunhados por existirem e compartilharem dos momentos importantes de forma carinhosa e terna.

Aos meus amigos queridos como disse Vinicius de Moraes

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.

Não percebem o amor que lhes devoto

e a absoluta necessidade que tenho deles.

Inicio minha fala expressando que o tempo confere as instituições sua credibilidade histórica diante de seu papel social. Assim a Academia Cearense de Língua Portuguesa, desde sua fundação em 28 de outubro de 1977 tem anunciado ao povo cearense sua importância histórica. O Presidente da Academia, Italo Gurgel, em seu discurso de posse, escreveu

As academias são eternas. Passam as modas e os modismos, vão-se as escolas, desfilam em ondas fugazes os movimentos, tendências e estilos. As academias, porém, trafegam com desenvoltura pelas veredas do tempo, porque edificadas com a matéria prima da verdadeira imortalidade. Seus pilares se assentam naqueles valores que dão consistência a nossa identidade cultural, que fortalecem a unidade nacional e nos inserem harmônicos no concerto das civilizações. É esse caráter de eternidade que confere às academias a missão de estabelecer elos entre as gerações.

Esse significado de sua missão institucional, sobretudo, o zelo pela língua portuguesa, revigora-se no tempo por sua seriedade e contribuição social. Esse reconhecimento é importante.

Passo, então, a pertencer a tão honorífica instituição, recebo essa honra com a disposição de uma mulher que procura atravessar o tempo com humildade e determinação para aprender. Confesso que fiquei receosa. Afinal, pertencer a Academia Cearense de Língua Portuguesa é uma grande responsabilidade e tem um singular significado social. É uma honraria que poucos têm essa oportunidade. E este sentimento, logo foi superado pela gentileza e afabilidade impregnada nas atitudes dos que me acolheram. É essa a visão que guardo daquele instante. Cheguei, e na minha primeira reunião, todos me receberam de forma gentil, elegante, própria dos sábios que sabem ser o novo bem vindo por representar uma oportunidade de renovação.

Falo como Clarice Lispector para expressar o referido momento

"As pessoas mais felizes não

têm as melhores coisas.

Elas sabem fazer o melhor das

oportunidades que aparecem

em seus caminhos.

A felicidade aparece para

aqueles que choram.

Para aqueles que se machucam.

Para aqueles que buscam

e tentam sempre.

É com essa disposição para ser feliz, na circunstância do novo, que busco aprender cada vez mais. O cenário de acolhida na Academia me deixou tranquila e pisei forte no chão histórico da instituição. Resolvi ouvir mais e continuar minha jornada de aprendiz. Fui sorver a sabedoria dos que lá já se encontravam como se fosse uma taça de um bom vinho, na mesa dos apaixonados.

Esse, então, é um momento especial. Tomo posse da cadeira 24 desta Academia, que tem como ilustre Patrono Laudelino Freire e meu antecessor Adalgiso de Almeida Paiva.

Expresso, inicialmente, a admiração ao meu patrono Laudelino Freire. Um dos maiores investigadores dos estudos clássicos e filológicos no Brasil. Professor catedrático do Colégio Militar, tendo lecionado várias disciplinas. É o autor do Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa no período de 1939-1944, de publicação póstuma, em cinco volumes. Autor ainda de A defesa da língua nacional (1920), Verbos portugueses (1925), Seleta da língua portuguesa (1934).

Foi um dos maiores defensores da simplificação da ortografia no Brasil. Em toda a sua obra de escritor e de jornalista cultivou o português com a generosidade extensa de uma vocação, divulgando o que descobria. Não era a gramática que ele venerava, e sim, a história, o desenvolvimento, o espírito da língua. Advogado, jornalista, professor, político, crítico literário, critico de arte e filólogo brasileiro. Laudelino de Oliveira Freire escreveu Um século de pintura, uma obra de pesquisa que traça, densamente a evolução da arte no Brasil, desde a chegada da Missão Francesa até a Primeira Guerra Mundial. A transcrição é integral e fiel ao original, fazendo-se apenas a atualização ortográfica, para facilidade de leitura. Foi membro da Academia Brasileira de Letras. Nasceu em Janeiro de 1873 a faleceu em Junho de 1937.

Ao meu antecessor Adalgiso de Almeida Paiva...............................................................................................................

Qual será então nossa contribuição?

Como educadora de formação e durante anos professora do ensino fundamental, médio e superior, estudo propostas educacionais e sigo o percurso da formação pedagógica em cursos de Didática Geral, Docência do Ensino Superior e de Intervenção Grupal e Psicologia da Aprendizagem. Na minha história quando supervisora da Escola Publica, buscava orientar professores de várias áreas, especialmente, os professores de português na utilização de métodos e técnicas criativas e desafiadoras da reflexão do aluno. Existia uma dificuldade destacada por eles. Como fazer com que os alunos gostassem de ortografia, gramática, redigir, ler, produzir textos, entre outros questionamentos. Na ocasião, nos reuníamos para pensar estratégias que fossem instigadoras e gerasse a reflexão, o gosto pela leitura, pela norma culta. Ensinar aprender a aprender.

Na fase de Diretora de Escola Particular, proporcionava a criação de livros produzidos pelos alunos, publicando Jovens Poetas e organizando festivais de MPB, alem de gincanas culturais, concursos de contos e crônicas. Utilizava a contribuição de Freinet organizando a comunicação entre eles através do correio entre as salas de aula, o jornal do mês, e os boletins informativos. Orientava para o professor de Português principalmente usasse os primeiros momentos em sala para discutir as notícias de jornais, os fatos recentes, as datas comemorativas, as boas novas. Deleitosas lembranças pedagógicas. Aprendi muito com todos.

Deste modo, nosso objetivo sempre foi a de pesquisar os melhores caminhos para aprendizagem. Não só no público, como no privado. No público com as crianças e adolescentes, jovens e adultos, o qual por terem pouco acesso à cultura dominante encontrava dificuldades para apreender um código mais elaborado. No privado, impregnado das propostas preparatórias para o vestibular, buscava inserir a reflexão, a problematização. Ledo engano. Continuou predominante a preparação para o vestibular, hoje substituída pelo ENEM, o qual apresenta um formato diferente. Na nossa prática, sempre tento mostrar a essencialidade da reflexão acadêmica sobre os aspectos didático-pedagógicos, uma vez que o ensino da língua portuguesa, bem como de outras áreas do conhecimento, carece de metodologias e estratégias mais ativas e criadoras.

Mary Neiva da Luz, no artigo intitulado “Como se ensina Português no Ensino Médio” refere que em relação às atividades de língua portuguesa desenvolvidas durante as aulas, os alunos assinalaram que gostam mais de s músicas; encenação de estórias de livros; passeios; vídeos; pesquisas; trabalho com jornais; atividades de grupo.

O estudo desvenda que os alunos selecionaram como atividades instigadoras àquelas que envolvem trabalhos em grupos, criatividade e pesquisa do cotidiano.

Segundo Ana Teresa Naspolini, autora de “Didática do português: tijolo por tijolo: leitura e produção” (1996) a atividade que promove o conhecimento caracteriza-se por ser significativa produtiva e desafiadora. É significativa a atividade que propõe um desafio o qual o aprendiz tem condições de resolver , gerando de conhecimento útil à vida. Uma atividade é produtiva quando revela o conhecimento que o aluno já construiu e está construindo e é desafiadora quando apresenta algumas dificuldades, ou seja, está um pouco além daquilo que o aluno já domina. Quando questionados sobre o que é uma boa aula, os alunos apontaram: cartazes, vídeos; participação geral da turma; pesquisa para apresentar trabalhos; assuntos diferenciados. O novo, o inusitado, o clássico.

Como professora de Psicologia da Aprendizagem deve concordar com o teórico David Auzubel, pesquisador na área de aprendizagem. Auzubel defende que a Aprendizagem é significativa quando respeita os conhecimentos prévios dos alunos e constrói a partir deles, um novo saber através de um processo de ancoragem, fixação do conhecimento. Caso não aconteça, é uma aprendizagem mecânica, provisória.

Temos ainda as contribuições clássicas de Skinner com o behaviorismo, as questões inovadoras e revolucionárias de Piaget com o seu método psicogenético. Vygotsky e sua abordagem sociocultural, destacando, mormente, sua contribuições sobre o pensamento e linguagem, Daniel Golleman e sua pesquisa inédita acerca da Inteligência Emocional. Howard Gardner e sua abordagem sobre as Inteligências Múltiplas, enfim todos eles vêem a aprendizagem sobre diferentes óticas. No entanto, concordam predominantemente, que ela se dá quando o aluno, sujeito do processo, busca sua aprendizagem, apropria-se do saber, embora o façam de maneira diversa. Enfatizam ainda, a importância do docente, do adulto que o ajuda, ter conhecimento do conteúdo e a compreensão da ação didático-pedagógico que desenvolverá. Ação reflexão. Ser, sobretudo, um professor reflexivo, como bem disse Donal Schon.

Realço a importância da leitura e da escrita, não só no ensino da língua portuguesa, mas em todas as áreas do conhecimento.

Não poderia deixar de citar nessa especial ocasião o ícone da educação brasileira, Paulo Freire, que ao ser convidado por Darci Ribeiro para implantar o método revolucionário de alfabetização de adultos em 1962, enfatizou a leitura da palavra, sobretudo, àquela em que o aluno aprende a ler o mundo. A palavra em sua concretude histórica e cultural. A escrita e a leitura contextualizada.

Em seu método de alfabetização Paulo Freire pretendeu conscientizar o povo pela leitura contextual da palavra, sem a utilização de cartilha, utilizando o levantamento do universo vocabular comunitário e os seus temas geradores. Com seu método revolucionário de alfabetização de adultos, através dos círculos de cultura, criava condições para que o aluno pudesse emergir da ignorância e ressurgir na consciência de si mesmo e do mundo. Abortado pelo governo militar, ressurgiu tempo contribuído com suas idéias - força.

Pretendo, então, que a nossa contribuição na Academia Cearense de Língua Portuguesa seja, principalmente a de estudar e colaborar com investigações na área metodológica, especialmente a docência, a aprendizagem e a formação de professores.

Concluo minha fala agradecendo aos meus mais novos amigos, acadêmicos, expressando o meu respeito, a minha admiração e meu orgulho pessoal e, assumindo, publicamente, o compromisso com a Academia Cearense da Língua Portuguesa e sua missão institucional.

A todos os presentes que pacientemente me ouviram, muito obrigada