Homenagem do MASSA! às trabalhadoras/es de Santo André

O filme brasileiro "Que horas ela volta?" de Anna Muylaert, entre diversas outras questões trata da diferença de classe que separa os trabalhadores dos patrões. Se você não assistiu, assista. Essa produção cinematográfica é uma verdadeira obra de arte. Regina Casé interpreta Val, a empregada doméstica, submissa e atenta aos caprichos dos patrões José Carlos e Bárbara. Val põe a mesa, tira a mesa... até o guaraná ela colocava no copo de José Carlos, o patrão. Parecia meio absurdo para a família, que um de seus membros fizesse esforço, para quê? Se havia uma Val?

Já reparou situações assim fora da tela? Empregadas domésticas que dormem no trabalho e vivem em sentinela a toda e qualquer necessidade de seus patrões? Obviamente que essa relação de subalternidade não se esgota na função das trabalhadoras domésticas, tem inúmeros outros desdobramentos em um sistema classista que divide os que tem mais dos que tem menos. No caso de Val, a aparição da filha Jéssica, consciente das amarras da sociedade de classes, com muito custo, abriu os olhos da mãe que antes não percebia a humilhação que era submetida há anos.

Mas o que isso tem a ver com o 1º de maio, o Dia do Trabalho? Problematizar a relação de Val com José Carlos e Bárbara, tem uma relação intrínseca com a forma como é estabelecida a relação com o trabalho em um sistema capitalista. O trabalhador, dono apenas de sua força de trabalho é objetificado, coisificado para ter como retorno um salário insuficiente para corresponder até mesmo às suas necessidades básicas.

De acordo com o PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio) cerca de 39 milhões de brasileiros estão atuando na informalidade. O que significa que da força total de trabalho, estimada em 105 milhões de pessoas em nosso país, 41% desse total estão inseridas sem proteção social, porque não fazem contribuição para a Previdência. Sem garantir esse fundo, esses trabalhadores ficam impedidos de receber qualquer auxílio previsto no âmbito da seguridade social, além de não garantirem o direito à aposentadoria, portanto, sem renda em período de desemprego ou de afastamento por questões de saúde, ou ainda quando idosos. Esse tipo de ocupação, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), cresce desde as mudanças na legislação e, principalmente, após a “reforma” Trabalhista. Desde então, é assustador o crescimento da chamada uberização do trabalho, que atinge milhões de brasileiros, muitos deles desempregados que vêem nos aplicativos da Internet, a única alternativa para a sobrevivência.

Em tempos de pandemia do novo coronavirus, a situação se agrava e o efeito é devastador sobre a economia mundial. O risco é que o Estado, muitas vezes viciado em proteger os mais abastados mediante a necessidade do isolamento social como prevenção ao alastramento da infecção, resulte em demissões em massa de trabalhadores e a queda drástica na renda da população que já não tem nada para sobreviver.

Iniciativas de alguns países são apontadas como saídas para não deixar à míngua os trabalhadores. Temos o caso do governo da Argentina que está pagando 10 mil pesos argentinos, cerca de 800 reais aos trabalhadores informais e aos pequenos contribuintes afetados pela quarentena. Em Cingapura, os trabalhadores receberão um repasse de até US$ 300 (R$ 1,5 mil), a depender de sua renda.

No Brasil, parlamentares de diversos partidos uniram-se e votaram o auxílio emergencial por três meses aos desempregados e autônomos atingidos pela crise. Saída que ameniza, mas que está muito longe de responder as necessidades reais trabalhadores vulneráveis, que no lugar de diminuir cresce a cada dia no Brasil.

As saídas para as mudanças existem e é preciso apropriar-se delas. É necessário alterar a estrutura do sistema político, taxar as grandes fortunas, mudar os rumos da tributação e fazer valer legislações importantíssimas como aquela defendida há décadas por Eduardo Suplicy. Essas saídas nos parecem distantes, sobretudo no atual governo onde fica claro que a vida do trabalhador não tem o mínimo valor. Cabe aos trabalhadores então, uma única saída, unir-se contra toda e qualquer forma de objetificação e coisificação do homem, cabe a luta coletiva por dignidade e a superação da alienação. É preciso lutar para a consolidação de uma relação criativa com o trabalho, impossível sem o coletivo. Façamos valer, a máxima de Karl Marx sobre a urgência da união da classe trabalhadora, "trabalhadores do mundo, uni-vos!".

Uma homenagem a todas trabalhadoras e trabalhadores de nossa Santo André.