Aridez - Lizete Abrahão * Aridez - J.A. de Carvalho

Aridez

Lizete Abrahão

A dor apaga a luz do sol e da lua,

E murcham as estrelas feito uma flor.

Pelas vazias esperas, com a alma nua.

Arrasto a fome, de sombria furta-cor.

Os dias indiferentes são meu lençol

Barrado em cinza, meio bordado em pranto...

Eu me levanto pra ver nascer o sol

Mas de vazio, pesado cai-me o frio manto

Falo do mar e das estrelas às gentes,

Nenhum ouvido ouve o som que vem de mim...

Navalha a cortar a carne, essa mudez.

Estrelas exaustas caem feito pingentes

Dos meus olhos que se adormecem, enfim,

Para que o sonho regue minha aridez

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Aridez

José-Augusto de Carvalho

São áridos os hortos e os vinhedos.

Os campos de trigais estão perdidos.

No céu, as nuvens prenhes de segredos.

Será que os tempos já estão cumpridos?

Os sete véus de Salomé, a dança

que siderou o déspota sensual...

O verbo, que com asas de esperança,

lavado em sangue, cai no tremedal...

Que tempos de tragédia profetizas,

oh desespero de alma e coração?

Que medos te acorrentam às balizas

das aras de renúncia e perdição?

Meu peito é o teu ninho, que matizo

de auroras de encantado paraíso.