A dor de um poeta
Tere Penhabe

O poeta entristece, como toda gente
e às vezes sente, a dor insana de não ser amado.
Mas não cala a sua poesia, que é a sua magia
bálsamo para o seu coração amargurado.

Deita sobre os seus versos toda a sua dor
que vã seria a sua inspiração, tivesse ele a ilusão
de ser maior e imune às setas da paixão...
O poeta apenas sabe conviver com a dor...

Em pétalas rubras, desfolha seus desencantos
de todos os enganos faz sua guirlanda
e segue em frente, rumo ao horizonte
com sonhos naufragados, sem esperança...

O poeta chora, como toda gente
mas suas lágrimas se transformam em versos
que vai espalhando pelo mundo afora
esperando paciente que chegue a sua hora...

E agora, por mais que eu negue
por mais que eu me recuse a acreditar
a dor se multiplica ao me ouvir falar, porque
o poeta sou eu...

Santos, 19.12.2006_18:00 hs
www.amoremversoeprosa.com

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Mas o Poeta sonha
Eugénio de Sá

Quanto eu entendo, quanto eu acarinho
a doçura do pranto de um Poeta
ela tem todo um halo divino
banhando, sublimada, a fronte desse asceta

Porque a sua magia vive na tristeza
que o embalo da dor lhe traz à pena
como a luz de uma vela treme de incerteza
a mão que lhe descreve a mágoa extrema

desencantos, traições, tudo ali é contado
e o sentido dolente da saudade
sobrepõe-se ao estertor do injustiçado

É o sonho a ditar-lhe a poesia
que de razões menores é esvaziada
porque o Poeta vive essa estesia

Portugal
2006