Traduzir-se - Ferreira Gullar e Rabiscar-me - Giovânia Correia

Traduzir-se

Ferreira Gullar

Uma parte de mim

é todo mundo:

outra parte é ninguém:

fundo sem fundo.

uma parte de mim

é multidão:

outra parte estranheza

e solidão.

Uma parte de mim

pesa, pondera:

outra parte

delira.

Uma parte de mim

é permanente:

outra parte

se sabe de repente.

Uma parte de mim

é só vertigem:

outra parte,

linguagem.

Traduzir-se uma parte

na outra parte

- que é uma questão

de vida ou morte -

será arte?

Rabiscar-me

Giovânia Correia

Um pedaço de mim

é fragmento...

outro é algo assim

com fundamento.

Um pedaço de mim

é escuridão

outro é pura

emoção...

Um pedaço de mim

reflete e silencia

outro pedaço

vivencia.

Um pedaço de mim

nem se apresenta

outro pedaço

orienta.

Um pedaço de mim

se inebria

outro pedaço

luz irradia.

Rabiscar-me um pedaço

no outro pedaço

é uma decisão

de fundir-se

como aço

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Ferreira Gullar

Poeta e ensaísta brasileiro

Biografia de Ferreira Gullar:

Ferreira Gullar (1930) é poeta, crítico de arte e ensaísta brasileiro. Abriu caminho para a "Poesia Concreta", com o livro "Luta Corporal". Organizou e liderou o movimento literário "Neoconcreto".

Ferreira Gullar (1930) nasceu em São Luís, Maranhão, no dia 10 de setembro de 1930. Iniciou seus estudos em sua cidade natal. No início da década de 60, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde participou do Centro Popular de Cultura da extinta União Nacional do Estudante. Após a edição do A-I nº5, em 1968, Ferreira Gullar é preso e exilado em Paris e depois em Buenos Aires. Em 1977, é absolvido pelo STF e retorna ao Brasil.

A partir de 45 formou-se na poesia brasileira uma nova geração, denominada neomodernista ou pós-modernista, reagindo contra o "trivial e o supérfluo", cuja ideia foi divulgada na revista “A Ilha”. Ferreira Gullar iniciou sua obra sob os princípios da poesia concreta, logo renunciando os vanguardistas de São Paulo, numa luta para construir uma expressão própria.

Em 1954 escreveu a "Luta Corporal", livro que prenunciava a Poesia Concreta. Em 1956, depois de participar da primeira exposição de Poesia Concreta, realizada em São Paulo, organizou e liderou o grupo "Neoconcreto", no qual participaram Lígia Clark e Hélio Oiticica. Após romper com os concretistas, aproxima-se da realidade popular e do pensamento progressista da época, todo ele ligado ao populismo.

Em 1976, publica o "Poema Sujo", escrito em 1975, no exílio em Buenos Aires, que representa a solução dos problemas vividos por todos os intelectuais do período, que viram seus ideais populistas serem sufocados pela revolução de 1964.

Para o teatro Ferreira Gullar escreveu, em 1966, em parceria com Oduvaldo Vianna Filho, a peça "Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come". Em parceria com Arnaldo Costa e A.C. Fontoura, escreveu, em 1967, "A Saída? Onde Fica a Saída?". Junto com Dias Gomes, em 1968, escreveu "Dr Getúlio, Sua Vida e Sua Glória". Para a televisão, colaborou para as novelas Araponga em 1990; Irmãos Coragem em 1995 e Dona Flor e Seus Dois Maridos em 1998.

Ferreira Gullar ganhou diversos prêmios de literatura, entre eles, o Prêmio Jabuti de melhor livro de ficção de 2007, com "Resmungos". Também teve reconhecimento pelo Prêmio Camões em 2010. No mesmo ano, recebeu o título de Doutor Honoris Causa, da UFRJ. Em 2011, recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia.

Fonte:http://www.e-biografias.net/ferreira_gullar/

Giovânia Correia e Ferreira Gullar
Enviado por Giovânia Correia em 30/07/2013
Reeditado em 30/07/2013
Código do texto: T4411920
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