Alô Passado! / Alô!!!

ALÔ, PASSADO!

Cleide Canton

Afago, hoje, o coração inquieto,

mais desperto do que mergulhado

na crença cega do amanhã feliz,

mais aberto ao confronto

com as verdades que o orgulho esconde,

mais disposto a vencer as ameaças

sem contradições,

seguro apenas do que pode,

certo de que a derrota é somente

um incidente de percurso.

Hoje nada ofereço

porque estou reabastecendo

as minhas reservas,

preenchendo os meus vazios,

recolhendo os cacos dos meus cristais,

limpando as marcas do vinho derramado,

apagando a chama da última vela

que ainda teima em lembrar

que já houve um dia de festa...

Hoje pode ser

que eu não me preocupe

com as conseqüências

dos erros do ontem,

com o sabor amargo

de uma desventura qualquer,

com a cicatriz

que ainda se faz presente,

embora invisível aos cegos de plantão.

Hoje é um dia nada especial

onde dizem pouco os pingos da chuva

a duelar com a minha vidraça,

o barulho dos ventos

tentando uma nova sinfonia.

Nem mesmo falam comigo

os meus silêncios...

Hoje quero apenas sentir

aquele outro lado que já venci,

as dores das lágrimas que não pude chorar,

o calar dos desejos que se esconderam

na renúncia e na saudade.

Hoje quero reviver o passado

para sorrir ainda mais

deste presente do sol

nas minhas manhãs,

e deste brilho de novas estrelas

num céu que custei a bordar.

Hoje quero apenas

entender o tamanho do meu sorriso.

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Alô!!

Angélica T. Almstadter

Pois hoje quero olhar só em frente,

Não mais pisar nos mesmos rastros de nós.

Quero sentir a brisa nova

O perfume das manhãs bem nascidas.

Hoje quero sacudir as boas lembranças

Revirar as emoções puramente verdadeiras.

Feche os olhos e sinta a vida que escorre

Dentro do nosso peito ansioso;

Apague as dores, deixe brilhar o sol

Das esperanças doces, ainda que antigas.

Murmure baixinho as preces que só você conhece,

Elas espantarão fantasmas velhos

Para que escrevamos as poucas páginas

Que nos restam do amanhã.

A chuva serôdia passou por aqui

Sussurrando entre ventos seu nome;

Envelheci uma centena de noites

Suplicando o perdão para amanhecer

Sorrisos novos do mesmo amor.

Trago em cachos nas mãos

Carícias e sonhos

Esperando que colhas com a mesma

Cumplicidade que sempre nos uniu...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 17/06/2007
Código do texto: T530998
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