Dueto : Delírios



(Aliesh Santos)
Gota a gota... É assim que, pacientemente,
Acompanho o deslizar quase sexual
De gotas enluaradas que, vagarosas,
Insistem em percorrer cada pedacinho,
Cada cantinho perfumado de teu corpo...
Com o olhar, tomo conta e acompanho...
Isso mesmo: Gota a gota... É inevitável...
Enche-se-me de desejo, o corpo; d’água, a boca...
Provoca-me o perfume que sai de tuas entranhas...
Causam-me arrepios, calafrios,
Que aquecem e resfriam meu corpo;
Descem causando-me delírios,
Extasiando-me de desejo,
Querendo-te em mim, todo, inteiro,
Só meu... Não suporto...
Cerrando com força os olhos,
Puxo-te pra dentro de meus sonhos,
De meus delírios...
Lanço-te em minha boca, deito-te em minha cama,
Prendo-te entre minhas pernas, ofereço-te meu corpo,
Em troca, tomo todo o teu... Entre gemidos, sussurros,
Alcançamos juntos o gozo uno, longo, profundo...
Extasiada, abro os olhos,
Volto em tua cena, procuro-te,
Não te encontro, mas sorrio satisfeita...
Sei que estivestes comigo e de onde quer que estiveres,
Tocou-me, teve-me, fostes meu...
Então, volta se quiseres,
A casa, o corpo e meus delírios são todos teus...

 
(LHenrique Mignone)
Quando tento ler cada linha de teu corpo,
Lindo, cálido, suave, dolente e docemente,
E interpretá-las, transformando em música,
O quanto tudo me sugere, sugestiona e acalma.
Pautado por este infinito e divino torpor,
Sou conduzido ao mais íntimo de minha mente,
Onde te encontras a me esperar, serena e lúdica,
A me conduzir ao mais profundo de minh´alma.

Na linha de teu ventre, entre bemóis e sustenidos,
Teu umbigo sugere continuar atento à partitura,
De que me desvencilho e mesmo aplicado me alheio,
Passando incontido e incontinente à pauta seguinte.
Enlouquecido ao te tocar e ouvir plangente gemido
De meu sax ora mudo, nem mesmo o som perdura,
Sentindo túrgidos e vibrantes nos lábios teus seios,
Que me ordenam que continue, não mais pedintes.

E docemente confio a teus lábios meu instrumento,
E passo a dedilhar em teu corpo todos os que possuis,
E tornados música celestial, mesmo por momentos,
Em que és minha, em que sou teu e como me instruis.
E gota a gota sinto-me desvanecer em teus relevos,
Em teus lábios e boca, tragado neste infindo martírio,
Prisioneiro de coxas que enlaçam em mútuo enlevo,
Quando feneço em teus braços, neste etéreo delírio.
LHMignone e Aliesh Santos
Enviado por LHMignone em 29/03/2016
Reeditado em 29/03/2016
Código do texto: T5589095
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