A Morta Inês

Sobre o leito, recamada

Com a face enlanguescida

Rosa Inês — a desgraçada —,

Repousava falecida.

Se findara então, a Rosa

Já nascida emurchecida,

Solitária e lacrimosa,

Vida que não fora vida.

Os rosais de seus jardins

Enfeitavam-na no leito,

Lírios, rosas e jasmins,

Brancas flores sobre o peito.

No pescoço, repousava,

Feita em ouro, larga cruz.

A inscrição que lhe adornava:

- Salve o Cristo-Rei, Jesus.

Ela trajava um vestido,

O mais belo que tivera

Como a Morte enegrecido

Sem a cor da Primavera.

Uma frágil claridade

Balsamando-se no ambiente,

Envolvia com piedade

Sua face tão dormente.

Sete velas, sete incensos,

Sete anjinhos, sete salmos...

E seus pais tão tristes, tensos

Em guardá-la a sete palmos.

Não se ouvia choro ou canto,

Nem palavras de tristeza.

Só silêncio! Por que pranto

À tal lei da natureza?

Tão somente um brando vento

Nas folhagens ressonava...

Feito um plácido um lamento,

Era o outono que chorava?

Os fantasmas - seus vizinhos -

De outro mundo - sem querela;

Aguardavam-na entre vinhos:

- Sua nova parentela.

Contemplava a turba, em dores,

Sua imódica altivez;

Entre as suas próprias flores

Repousava a morta Inês.

A sua alma então partia,

Enquanto via o seu corpo,

Que sutilmente sorria,

Embora jazesse morto.

Novembro de 2018.

Nestório 1ª, 4ª, 7ª e 10ª estrofes.

Renan 2ª, 5ª, 8ª, 12ª estrofes.

Derek 3ª, 6ª, 9ª, 11ª estrofes.

Renan Caíque, Nestório da Santa Cruz (Rafael Dalle) e Derek Castro
Enviado por A Lira em 03/12/2018
Reeditado em 03/12/2018
Código do texto: T6517877
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