Só teus lábios não beijei

A memória dá-se muito a traquinagens

e embaralha o que foi feito e o que eu só quis.

São confusas as notícias das imagens

que relatam muitas coisas que não fiz.

Os estímulos são iguais tempestades

que se preparam num horizonte perdido.

No íntimo só surgem ventos de alardes

inflando as vontades de um corpo esquecido.

Os desejos só planos de viagem

e não passam de uma vã força motriz,

pois os atos mais dependem de coragem

do que a simples intenção de ser feliz.

As chuvas molham os corações pelas metades

e não conseguem alimentar o fruto enfraquecido,

porque não há quem não tenha dificuldades,

até no Éden, foram expulsos com o fruto proibido.

Quero crer que foi num beijo, de pilhagem,

que avancei com minhas mãos em teus quadris,

e rolamos num furor quase selvagem

consumando aquelas ânsias mais febris.

Os raios tocam os corpos com suas potestades

que entram em choque num instante confluído,

e se unem na mesma sintonia em eternidades

sonhando com um desejo fogoso, subtraído.

Mas lembrar que foi assim não é vantagem

porque mente essa lembrança que só diz.

Os teus lábios não beijei, nem de passagem.

Nada, nada aconteceu! Foi por um triz!

As nuvens são lembranças e deixam saudades

Enquanto que o céu parece um sonho escondido.

A alma encontra seu refúgio em afinidades

e o teu beijo não surgiu com o sol, ficou contido.

Helen De Rose e Obed de Faria Jr
Enviado por Helen De Rose em 07/11/2019
Reeditado em 08/01/2021
Código do texto: T6789455
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