CARTEL: QUEM GANHA COM ESTA PRÁTICA CRIMINOSA?

No modelo democrático capitalista do nosso país, uma das nuances mais interessante é o processo de concorrência estabelecido no mercado de oferta e procura de produtos de consumo, que faz com que o produtor procure elaborar seu produto com um menor custo possível, tendo o desafio de alcançar a mais alta produtividade para que sobreviva e se destaque no mercado. É um movimento que estabelece um processo natural de seleção, no qual somente os eficientes crescem e se mantêm; mecanismo que proporciona à população bens e serviços de qualidade cada vez melhor.

Quando este processo se dá naturalmente, o resultado é: produtos e serviços de qualidade crescente, preços cada vez mais reduzidos e população bem servida e com possibilidade de acessar cada vez mais bens de consumo, culminando em um grande gerador de progresso e empregos.

Entretanto, existe uma moléstia, um cancro que vem se instalando neste sistema, que faz com que tudo seja o inverso do que falamos: é a prática do cartel.

Cartel, em linguagem de economia, é um acordo que se dá entre produtores, distribuidores e comerciantes de algum bem ou serviço, onde se estabelecem por consenso normas e regras, para lucrarem o máximo possível, com pouco esforço, sem nenhuma preocupação com o bem comum.

Carterização, podemos reforçar, é um processo no qual muitos de um mesmo seguimento se irmanam para fazer os consumidores reféns de seus objetivos, que não é outro senão o de enriquecer às custas destes, que muitas vezes não vêem outra saída senão aceitar e sofrer as conseqüências.

Contudo, entre os participantes de um determinado cartel, há os que ganham muito, os que ganham pouco, os que deixam de ganhar e os que perdem, e muito! É justamente isto que desejamos enfatizar.

Suponhamos que numa cidade todos os donos dos principais supermercados estabeleçam, por meios escusos, um cartel, limitando os preços a serem praticados para uma lista de produtos. Ao final do acordo todos se sentirão satisfeitos, pois, os preços foram nivelados por cima e ninguém irá se preocupar em perder ou sofrer prejuízo e terão certeza de que seus concorrentes, ou melhor, ex-concorrentes, agora comparsas, não irão mais preocupá-los. Podemos afirmar, contudo, que todo esse processo irá beneficiar apenas os maiores e mais organizados, os que estejam bem localizados, os que oferecem regalias, diferenciações e outros benefícios... Por que motivo, perguntamos, um cidadão iria se deslocar a um bairro distante ou num estabelecimento precário para adquirir produtos ou serviços se todos praticam os mesmos preços? Por certo esse consumidor se dirigirá sempre aos estabelecimentos mais confortáveis, mais bonitos, com maiores benefícios.

A livre concorrência, quando devidamente praticada e compreendida, favorece os estabelecimentos menores e que estejam situados em pontos menos estratégicos. Esses poderão ganhar seus clientes oferecendo preços mais baixos, uma vez que seus custos também são mais baixos, incentivando o consumidor a procurá-lo. Quando existe a livre concorrência, cria-se duas opções ao consumidor: uma para aquele que paga mais caro para ser melhor atendido e ter mais conforto, e outra para o precisa ou faz tudo para economizar.

Muitos empresários ingênuos e desavisados se enganam quando pensam que participando de acordos ou cartéis, praticando os mesmos preços dos grandes e bem localizados estabelecimentos comerciais, estarão ganhando como eles. Pelo contrário, estão criando mecanismo para o próprio insucesso.

Quando um pequeno estabelecimento de produtos ou serviços situado na periferia usa da criatividade e pratica preços mais baixos, a tendência é de que atraia o consumidor, cresça e se transfira para áreas centrais. Assim se dá o crescimento natural. O pequeno que não ousa e não oferece atrativos para o consumidor tende-se a estagnar ou desaparecer.

Em suma, quando se estabelece um cartel para um determinado seguimento de consumo, onde dez estabelecimentos participam, com toda certeza dois estarão ganhando muito, três razoavelmente, enquanto os outros cinco restantes, estarão apenas servindo de suporte para os que estão lucrando excessivamente, pois deixam de ser opção e certamente encontrarão o caminho do fracasso.

É necessário que os pequenos empresários que porventura participam desse processo doentio e injusto, tanto para eles mesmos como para a sociedade como um todo, abram os olhos e percebam melhor, pois são apenas os laranjas do processo.

Em suma a verdade é esta: Carterização é um processo semi-feudal em que os grandes, poderosos e espertos colocam os médios e pequenos reféns a seu próprio benefício, tentando faze-los acreditar que também ganham!

Afinal, a quem você está servindo com o seu produto ou serviço: a população ou aos usurpadores? Você participa de um sistema saudável de concorrência ou está envolvido com essa corja de comparsas?