Soprando o tempo
Angélica T. Almstadter
O tempo...ah esse ingrato, que não me
deu chances de encontrar os caminhos que
hoje posso vislumbrar...mas não posso caminhar por eles...
...esse tempo louco que não mede seus atos
e atônita me faz diante da vida que depois
de ceifar minha juventude e pouco me
dar em troca...faz-me sentir menina
quando o corpo não tem a mesma desenvoltura...
Não quero mais abraçar as horas...
me assombro nas noites encarcerada
pelas paredes que observam minha solidão...
choro pelos olhos cansados...
pelo descortinar dos dias sem ilusões...
pelo abraço do corpo pelos
meus pobres braços...
Não quero mais virar as folhinhas dos
calendários...que céleres se
multiplicam ultrapassadas...
quebrei os espelhos que me acusam...
prendo o fôlego todas as manhãs para
sorrir ao invés de chorar pelas horas que me escapam pelo vão dos dedos...como se sem o meu fôlego pudesse
deter mais um dia, uma hora...
Não quero da vida o que ela não pode me dar...
nunca quis...me aninho nos meus sonhos
e vivo o mundo que separei para encerrar minha existência...
Sorrio...canto...e corro pelas areias desse
deserto árido que queima sob meus pés...
beijo com insistência as luas que
me visitam
nas noites em que me abro
para recebê-la dentro de mim...
Viajo nos ventos e me encanto com as brisas...
neles sopro meus desejos... entrego nacos
dos meus sonhos para que ganhem vida...
Calo em mim os medos e as angústias...
pincelo nas telas um pouco das emoções
que sulcam minh´alma aflita...
e escondo em mim a vida que quer voar aflita...
Espero as chuvas...os tempos e as chuvas...
para lavar a alma e fugir dos
dias e das noites...fechar as eras...
O tempo me persegue...
Enquanto meu grito não produz eco...
deito-me no tapete e assisto o silêncio das paredes...