FRANÇOIS VILLON, UM CANALHA GENIAL

Só estou seguro do que é duvidoso:

Obscuro, apenas o que é perfeitamente evidente;

Não duvides senão de tudo aquilo que é certo;

Considera como ciência um acidente fortuito,

(…)

Mesmo deitado, tenho um grande pavor de cair;

E tenho muitas razões, se não tiver nenhumas.

(François Villon, “Ballade du concours de Blois“)

Pesquisando sobre a poesia francesa na Internet, encontrei um poeta, no mínimo instigante, François Villon, sobre quem afirma Xavier Dayer (1972) ser o

“Premier poète maudit dans un univers bruyant et goguenard, il est tour à tour isolé, emprisonné et condamné.

Chanter sa poésie, c’est nécessairement la transformer. Il ne reste donc qu’une appropriation lointaine qui aimerait être un parcours à travers les superpositions, le dépouillement, la douceur et la raillerie”.

O objetivo deste texto é o de juntar algumas informações básicas sobre essa personalidade que foi Villon, poeta medieval. Um ladrão que escreveu o melhor de sua obra quando estava na prisão: Testamento (autobiográfica) e Balada do enforcado.

François de Montcorbier ou François Des Loges nasceu em Paris no ano de 1431 e ficou órfão de pai quando ainda era muito pequeno. Nesse mesmo ano Joana D’Arc era queimada em Rouen e a França encontrava-se fragilizada pela guerra.

O padrasto, tio e benfeitor de François, Guillaume de Villon, de quem o poeta provavelmente herdou o sobrenome, era capelão da Igreja de Saint-Benoit-le-Bétourné e professor de direito canônico.

François bacharelou-se em artes, pela Sorbonne, no ano de 1449, e obteve o grau de mestre em 1452. Cedo começou a sua vida de problemas com a lei até ser banido de Paris por cerca de 10 anos e passou a vagabundear com parceiros de seus malfeitos. Algumas vezes foi dispensado de seus crimes, como aconteceu ao receber o perdão de Luís XI, em 2 de outubro de 1461. Mas, o incorrigível foi novamente preso, torturado e condenado à forca.

Eis a descrição de Villon feita por Iosito Aguiar:

“(...) Era triste, mau, alegre, louco, magro e desprezível; um feixe de pele, ossos e fogo. Anguloso, inquieto e nervoso:’Seco e escuro como um cigano’, segundo ele próprio. O lábio superior desfigurado por um golpe de adaga, olhos voltados em furtiva obliqüidade para o salto súbito de um possível gendarme escondido na sombra. Era o mais hábil e vil ladrão de Paris e o maior poeta da França a seu tempo. Aos 20 anos já havia seduzido muitas mulheres; aos 24, assassinado um padre; aos 25, tornara-se um dos principais membros da Conquille (Cavalheiros do Punhal), malta demoníaca de trapaceiros, gatunos, bandoleiros, arrombadores, batedores de carteiras, salteadores de estradas, assassinos e rufiões que fizeram do século XV uma época de terror. Não obstante sabia cantar, mille diables, como sabia cantar! E o seu espírito era fino como uma agulha. Conhecia, também, textos latinos, pois era mestre não só das artes liberais como das do amor pecaminoso. Sua fé era profunda e sincera a sua devoção aos amigos".

Villon apreciava a ironia, o escândalo, o deboche e foi um renovador, principalmente da linguagem. Sobre ele afirma Jean Teulé :

"La poésie de Villon marque une rupture en même temps qu’elle lui confère une nouvelle vitalité, une unité qui contribue à celle de la langue française".

Foi a pedido da mãe, uma analfabeta, que escreveu um de seus mais belos poemas, Ballade pour prier Notre Dame _ Balada a Nossa Senhora (1461):

Vous portastes, digne Vierge, princesse,

Iesus regnant, qui n’a ne fin ne cesse.

Le Tout-Puissant, prenant nostre foiblesse,

Laissa les cieulx et nous vint secourir,

Offrir a mort sa tres chiere jeunesse.

Nostre Seigneur tel est, tel le confesse.

En ceste foy je vueil vivre et mourir.

Pequeno Testamento, também conhecida como Lais (Legado), é composta por 2023 linhas de versos e carrega a marca da perspectiva da morte na forca, a angústia, o amargor e também o fervor religioso. Identificada e datada (1456) pelo autor, a obra dispõe de 320 versos octossílabos espalhados por 40 estrofes de oito linhas cada.

Cinco anos depois do Pequeno Testamento, Villon escreveu o Grande Testamento, uma obra mais elaborada e segura, composta de mais de 2000 linhas de versos.

Para Alonso Blanco,

"(...)De lo único que no cabe dudar es de que Villon, además de ser el más alto lírico francés del siglo XV, es también el mayor conocedor de la lengua francesa en su tiempo ( de lo que es consciente y desea que así lo reconozcan sus lectores)".

A obra de François Villon, escrita em francês medieval, é traduzida para diversas línguas, inclusive japonês, tcheco, alemão, esperanto, e foi também posta em francês moderno.

Na Balada dos Enforcados, espera a comiseração divina, não só para ele, mas para todos os que o acompanham na miséria. Nos versos A Charles D’Orléans, canta com nostalgia a Natureza. A mulher, seja de forma irônica ou apaixonada, está presente na poesia do vate francês. Villon demonstra conhecer, como D. Diniz, a alma feminina, homenageia-a e privilegia a parisiense.

BALADA DOS ENFORCADOS

Homens irmãos que a nós sobreviveis,

Não nos tenhais o coração fechado;

A pena que por nós demonstrareis

Mais cedo Deus terá de vosso estado.

Aqui nos vedes juntos, cinco, seis;

Nossos corpos, demais alimentados,

Agora estão podridos, devorados,

E os nossos ossos vão ao pó volver.

Que não se ria alguém de nossos fados,

Mas peça a Deus que nos queira absolver!

(...)

RONDEAU, DE CHARLES D’ORLÉANS

Le temps a laissé son manteau

De vent, de froidure et de pluie,

Et s'est vêtu de broderie,

De soleil luisant, clair et beau.

Il n'y a bête, ni oiseau,

Qu'en son jargon ne chante ou crie :

Le temps a laissé son manteau

De vent, de froidure et de pluie.

Rivière, fontaine et ruisseau

Portent, en livrée jolie,

Gouttes d'argent d'orfèvrerie,

Chacun s'habille de nouveau :

Le temps a laissé son manteau

De vent, de froidure et de pluie.

BALLADE DES DAMES DE TEMPS JADIS

Dites moi où, et n'en quel pays,

Est Flora la Belle Romaine,

Achipiadès, ni Thaïs,

Qui fut sa cousine germaine,

Echo parlant quand bruit on mène

Dessus rivière ou sur étang,

Qui beauté eut trop plus qu'humaine ?

Mais où sont les neiges d'antan ?

(...)

Balada de las mujeres de Paris

Célebres son por lo dicharacheras

las sicilianas y las venecianas,

Amor las usa como mensajeras

ahora igual que en épocas ancianas.

Mas tomad a lombardas, genovesas

y saboyanas -no habla un aprendiz-,

a romanas o bien a piamontesas:

las de más salero son las de París.

Dicen que tienen las napolitanas

cátedras de garbo y de sutil hablar,

que las alemanas y las prusianas

son grandes maestras en el parlotear;

mas por más que citen a las egipcianas,

a los picos de oro de cualquier país,

a las españolas o a las catalanas:

las de más salero son las de París.

No son muy brillantes ni las bretonas

ni las picardas ni las lorenesas

ni las de Toulouse ni las gasconas

ni las ginebrinas ni las inglesas:

sólo del Petit-Pont dos pescaderas

cerrarles podrían el pico en un tris

(¿nombré ya bastantes glorias extranjeras?):

las de más salero son las de París.

Príncipe: las parleras parisinas

con su donaire adornan la flor de lis.

Por más que se hable de las florentinas

las de más salero son las de París.

*(Versión de Rubén Abel Reches)

CONFUSIONE (POCHADE)

*(di Franco Foschi)

Io son felice con la mia donna,

tu sei felice col tuo uomo,

piangerei se la mia donna

fosse felice col tuo uomo,

o se il tuo uomo con tutto se stesso

volesse la mia donna.

Allora perché sono sono felice

se penso cheti voglio?

E tu, donna, sei felice se pensi di volermi?

L'unica cosa certa è che non voglio

essere felice col tuo uomo.

Não faltam estudiosos e material farto sobre François Villon, um feio que ainda apaixona com a sua obra imortal e atual. Mesmo tendo sido um degenerado moralmente, conservou algo inquebrável e transparente, uma alma que habitou seu corpo e ficou registrada na produção de um poeta cujo fascínio atravessa séculos.

REFERÊNCIAS

http://brahms.ircam.fr/works/work/7600/

http://globegate.utm.edu/french/globegate_mirror/villon.html#La%20Réception

http://en.allexperts.com/e/f/fr/fran%c3%a7ois_villon.htm http://www.answers.com/topic/fran-ois-villon http://www.canalsocial.net/GER/ficha_GER.asp?id=3330&cat=biografiasuelta

http://www.bartleby.com/65/vi/Villon-F.html

http://www.poets.org/poet.php/prmPID/1535

http://www.pinkernell.de/villon/

http://www.humanite.fr/popup_imprimer.html?id_article=827696

http://www.revista.agulha.nom.br/ag4villon.html

http://www.biblisem.net/meditat/villbpnd.htm

http://frpochon.club.fr/bibliobdx/villon/vilpoe.htm

http://poemasenfrances.blogspot.com/2004/05/franois-villon-ballade-des-femmes-de.html

http://www.informatore.com/orto/poesie/poesie-1/Villon.htm

http://isla_negra.zoomblog.com/archivo/2007/05/30/franois-Villon-Francia-en-portugues.html

http://www.historique.net/philologie/dames/

http://www.humains-associes.org//JournalVirtuel/Poesies/HA.JV.Villon.html

http://alertaamarelo.blogs.sapo.pt/2004/11/?page=2

TÂNIAMENESES
Enviado por TÂNIAMENESES em 04/01/2009
Reeditado em 04/01/2009
Código do texto: T1367092
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