Encarando o espelho

Passo os olhos no espelho e procuro encontrar

palavras que possam justificar esse rubor na face, essa urgência em anoitecer os meus olhos...

Não ficaram palavras por dizer...acho que mais do que o verbo...ficaram as entrelinhas...o perfume colado no meu travesseiro...esse aroma

ainda quente que procuro com o rosto colado...

Está lá discretamente estendido no leito que me espera noite após noite a promessa de sonho secreto...do corpo abraçado entre quatro paredes surdas...

Quando o silêncio se estender por todo o percurso da madrugada e eu acender os meus olhos, faróis de um verde disfarçado... entenderás meu recado...e num átimo suas mãos estarão adentrando pelas mechas dos meus úmidos cabelos...a noite é um berço macio para embalar corpos leves e almas sensíveis...

Assim quando o incenso tiver queimado pela metade e misturado ao perfume da água de cheiro do meu corpo banhado, é porque a noite já te espera, contando os minutos...

Deixo pistas nos rastros das palavras para que me encontres, por onde tu andares...certamente por lá também andarei...e tão certo quanto a noite engole o dia...beijarei cada uma das tuas promessas bem-vindas e silenciosas, porque delas tenho premonição amorosa...

Mas se mente pra mim esse espelho indiscreto porque já vasculhou meus desejos e refletiu-os todos sem ecos....prefiro nunca encarar de frente as tuas verdades...guardo-me no sonho das noites esquecidas e solitárias...

Tenho a pele palpitando e os olhos perdidos no horizonte...sei que um piscar de olhos, um passar de língua pelos lábios e estarei envolta pelos teus braços...portanto, antes que a noite se incline sobre os meus olhos...vou encontrá-la com sussurros audíveis só para nós...minha pressa agora é de só nela deitar os meus abraços, antes que outros o arrebatem dos meus olhos serenados...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 01/05/2005
Código do texto: T14150
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