O que Faz um Povo Infeliz

No dia da morte de Pixinguinha, um dos maiores expoentes de nossa música popular, senão o pai dela, caiu uma chuva danada. O que ensejou a seguinte manifestação do escritor Sérgio Cabral em seu excelente livro Pixinguinha, Vida e Obra, às pp. 232: “... o temporal era recebido como se fosse mais uma tentativa da ditadura militar de impedir a alegria do povo...”

De um modo geral a gente verifica que as autoridades existem exatamente pra isso: impedir a alegria do povo.

Políticos são eleitos para não fazer o que é de interesse de seus eleitores. Todos sabemos que a maioria de suas promessas não são cumpridas. Embora eventualmente sejam compridas.

Collor não acabou com os marajás. Ao contrário, aumentou descaradamente o número de aproveitadores ou salteadores do dinheiro público, na medida em que bloqueou o acesso das pessoas às suas contas bancárias. Provocando com isso inúmeros suicídios, pelo menos entre empresários de pequeno ou médio porte.

Em 58 não foi JK que trouxe alegria ao povo brasileiro. Foram as pernas de Garrincha que, numa das maiores equipes de todos os tempos, deram a primeira Copa do Mundo de Futebol ao Brasil. JK, ao contrário, em que pese as várias realizações de peso do seu governo, possibilitou a implantação do rodoviarismo em nosso país. O que promoveu o esfacelamento do transporte sobre trilhos. Decorrendo daí o aumento da nossa dependência do petróleo, face ao elevado consumo de combustível e de asfalto em nossas vias, e também aos terríveis engarrafamentos de que somos vítimas até hoje, não só nos grandes centros como em muitas de nossas estradas.

Em 70 não foi a implacável e odiosa ditadura, implantada a partir de 64, que nos trouxe alegria. Foram as jogadas de Pelé que, junto a um conjunto de craques como nunca se viu, trouxeram mais uma Copa do Mundo de Futebol para o Brasil. A ditadura, ao contrário, permitiu a tirania, a intolerância e a impunidade na perseguição, captura e desaparecimento de inúmeros brasileiros, amparada depois no abominável Ato Institucional Nº 5.

No seu intuito de impingir as maiores injustiças ao povo, a ditadura, inclusive, foi mais longe, com a eliminação (na maioria dos casos física) total de seus líderes. Ninguém pode contestar a liderança que exerceram entre os brasileiros as figuras de Getúlio, JK e mesmo Carlos Lacerda, para não falarmos em outros.

Recentemente tivemos a instituição da CPMF, um instrumento de transtorno para a vida dos contribuintes, sobretudo os de classe média. Porque estavam obrigados a uma bi ou tri-tributação na realização de qualquer compra. Felizmente a CPMF foi abolida (não se sabe até quando), tal a repulsa provocada na população e até mesmo em certos políticos, em específico nos que ficaram com medo de não serem reeleitos.

Quero saber então para quê governantes, se eles existem só para contrariar os seus governados? Para quê mandantes, se eles nunca fazem o que são mandados? Não entendo a anarquia como o sistema ideal de governo. Por ser, por princípio, impraticável. Mas a democracia por aqui deveria ser seguida mais ao pé da letra. Ao invés de estar a serviço apenas dos que fingem representar o povo, deveria estar mais ao alcance dos que são representados. Um bom medicamento para esse tipo de doença, há tanto tempo tão comum aos brasileiros, seria submeter a população a consultas ou plebiscitos toda vez que decisões envolvendo questões de reconhecida expressividade tivessem que ser tomadas. Tais decisões não deveriam ficar apenas ao sabor de um grupo ou de uma minoria que se julga capaz de dizer o que é melhor para o povo. Estaríamos dando chance à democracia de ser exercida com mais eficácia, respeito e dignidade se fosse maior a possibilidade de o povo determinar e participar das escolhas que lhe deveriam caber.

Rio, 12/03/2009

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 30/06/2009
Código do texto: T1674550
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