Muito além da superfície

Angélica T. Almstadter

Quando o manto da noite me cobre...meu coração se aperta dentro do peito...mordo os lábios e assustada

me coloco em meditação...tentando entender...os porquês da vida...

as razões que arrastam as nossas vidas pra portos tão distantes dos que podemos imaginar...

Mas nem todas as noites...ou nem todos os dias me fariam entender...que não posso

explicar...o que não posso tocar... ou modificar pelas minhas próprias mãos...

Sinto-me impotente para domar o meu destino...tomar as rédeas nas mãos e segurar

com força...colocar um cabresto...domesticar...e cada vez que ele me escapa do controle...

sinto-me fraca a desfalecer...perder o ar...algumas vezes tenho vontade de desistir...

Mas sou pau de aroeira...teimosa como um bicho...e mesmo dando cabeçadas

sigo em frente...ainda que me lanhe toda...não sei falar não a um desafio...

e a vida tem me sido um desafio constante...um exercício de

constância...um aprendizado...muitas vezes cruel...

Em alguns dias queimo como brasas...em outros gelo terrivelmente...

difícil é encontrar o meu meio termo...porque estou sempre

a me procurar...sempre a me perder de mim em algum

lugar qualquer que não seja aqui ou acolá...mas dentro de mim mesma...

como se já fizesse parte do meu ser essa incongruência...

Há dias que não consigo voltar...há dias...que não quero voltar...

como se dentro de mim pudesse estar a chave do meu novo mundo...

onde tudo pode acontecer...sem que eu precise me ferir...ou ferir ninguém...

Há matizes dentro de mim...de um sol que não conheço aqui fora...

há em mim um luar que não divido...porque é só meu...só para iluminar os meus sonhos...

onde eu sou a seresteira e a donzela na janela...

Meus mergulhos são pura emoção...são potentes afrodisíacos...

relaxantes...e outras vezes vorazes alucinógenos...que me consomem...me torturam...e me alucinam...

Sou um ventre ansioso...uma mente mirabolante...um espírito desassossegado...

uma alma inquieta...e estranhamente adoro os meus

silêncios...mas seriam os meus silêncios...ou os silêncios ao meu redor...

eu gosto de me ouvir...mas detesto o zum zum zum ao meu redor...

Tenho planos só meus...tenho desejos escondidos...tenho ilusões

que não divido...tenho um mundo só meu...

onde ninguém jamais viveu...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 18/05/2005
Código do texto: T17640
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