E daí...

Angélica T. Almstadter

E daí se na soleira do dia o jorro das palavras

não produzem afetos...cada dia é uma nova oportunidade

de semear e de colher...a ilusão que veste as horas

tem seu fascínio preso no coração que é capaz de produzir

muito mais do que é capaz de entregar, seja pela covardia,

seja pela ambição... porque só se doa o que se tem...

só se derrama o que transborda da nossa taça...

E daí se o dia se veste de guerra e escolhe as armas...

E daí se de golpes fatais se faz a luta que abrevia as palavras...sepulta sonhos...amputa vôos e mata verdades...

e daí se assim é que se conduz os passos...se assim é que se registra os fatos...

e daí se as cicatrizes nunca se fecham...se lanhos novos

imprimem novos passos...

Espicho o corpo na tarde como se buscasse

no divã do imaginário as soluções...que nunca acho...

no altar dos meus segredos...escondo meus medos...

e quando encolho minhas falas...é quando beijo meus

silêncios...

abençôo minhas parcas horas de solidão...

quando posso encontrar comigo...na profundidade do meu ser...e me confessar as minhas incertezas...

afrouxar as minhas palavras e lavar a alma que

insiste em se manter sob a poeira dos velhos

pensamentos...retendo e abraçando sofrimentos

que só abrem fendas doloridas...

Debruço sobre as horas inertes...quando

nada se move...para ouvir o tambor do meu coração

explodindo alto em ecos por todo meu peito...

e quando ele bate mais alto que tudo ao meu derredor

de certezas me cerco...

estou viva...há mais o que fazer...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 18/05/2005
Código do texto: T17722
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